Criámos o eu para não nos sentirmos sós no corpo. Tudo o que temos na imaginação é imperceptivo. Fenómenos de exteriorização ou alucinação momentânea, numa constante obsessão em exorcizar a solidão, a paragem e, em último caso, a morte. Atormenta-nos a ideia de cegueira, de perda do primeiro sentido da nossa vivência na cultura visual, no império da iconocracia. Porém, é mais fácil imaginar de olhos fechados, no consumar do rapto do mundo, na abstracção do sentido que ao mesmo tempo nos permite qualquer evocação do qualquer outro, nos prende a essa constante assombração. Démos à luz deus para não nos sentirmos sós no eu. Não o tem na sua etimologia, mas Deus parece-me implicar uma duplicação do eu.