Fortuna (ou Acerca de três Monólitos)
De conversa com o taberneiro. Na morte quem nos fala é a sorte. Para definir o que acontece nesta morte vou utilizar o vocabulário da sorte, pois a ela se deixa tudo. A morte, a que conhecemos de olhos fechados, corresponde a um mundo de possibilidades, ao negrume que podia enclausurar uma forma branca, num desenho ou numa escrita, mas num mundo onde só existe negro, sem formas que se pretendam. O post-mortem de uma alma, que é julgado pelo acaso, não deixa de ter uma coacção purgatorial: a das causas da morte. Neste nosso ocaso, cada alma tem um ponto de partida, um receptáculo pelo qual chega. E o problema é a chegada em si. Uma vez cá, começam vários jogos, alguns naturais como a demanda do porquê da morte, outros mais aleatórios, na demanda do quê de ser. Em primeiro lugar, cada alma que aqui chega, chega no momento em que o corpo reconhece que ficará em repouso naquele lugar por tempo indeterminado, seja esse lugar um caixão debaixo da terra, entre as pedras e as algas no...