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teoria da quimera

o obsceno, o irreal, o efémero e o inefável  encontram-se num parto: eu nasci num cenário turvo e tenho por hábito que o meu tumulto não passe de um banho de rosas. foi preciso um palácio do oblívio, onde o cima era baixo, e o estimado era esquecido. foi precisa uma escada para o céu, um jardim de delíquios violentos,  um inferno de maremotos. foram precisas cerca de 666 versões diferentes de mim mesmo, oh, como se diluem todas no tempo... e eu pareço exactamente o mesmo. foi preciso um asilo de marfim para eclodir esta teoria da quimera. e por aqui ando eu. a fazer os trabalhos de deus.

Ária da alma desse pesadelo

continua a falar, só te violas a ti mesmo. Comentaste que era louco, Que era só mais uma piada — Agora esta casa é minha. Se me querias ver morto, Bastava só dizeres — Estás a dar-me vida. Consegues ver a dança dos mortos? Consegues ver as caras que beijaste? Os olhos por que obcecaste? E os dentes que me arrancaste? A todo o custo contém o teu escândalo, O meu bom nome é meu para desgraçar. Não há caos, nem loucura, Só a voz ríspida e clara, Mais clara que qualquer ideia, A romper a orgia da falta de ânimo: A luz sobre o protagonista desse pesadelo (Se me querias ver morto, bastava admitires).

Clube dos poetas loucos

estou sempre bêbado nas minhas lágrimas, numa constante moca por causa da reputação e ponho narcóticos nos planos de aula, não é o que todos dizem? as crianças entram na minha casa cheia de teias, mas eu processo-te se pisares o meu quintal, que eu sou temeroso e miserável, perverso e injusto, esqueceram-se de levar este drogado funcional. eu quero gritar aos céus o quão perturbado tu me deixaste: tu não tens o direito a dizer-me o que é tristeza. tu não tens o direito a dizer-me que te sentes mal. tu não duravas uma hora no asilo onde me criaram. eu era gentil e bondoso até que o teu circo me tornou cruel. tu atraíste, magoaste, aprisionaste e chamaste-me louco. mas quem é que pode ter medo de mim? e é por isso que ainda sonhas comigo.

the gift of immortality.

eu avisei que ia haver decadência...  mas eu posso dar-vos imortalidade! — de olhos fechados a gemer pelo fim na futilidade da vanitas , na minha bandeira sorridente, na cor que vos fica melhor. já vos dei tanto, e que tal imortalidade? de esquecimento e finitude na imensidão do vazio de sempre, tantos espectros de cartas de amor, para nada vos valer? imortalidade. porque não vos abençoar com imortalidade? a bênção de não ter descanso, o sabor alucinado do ansiolítico, na profundidade do eco desse som oco das mandíbulas das caveiras a bater. porque não manipular a imortalidade? quando as cordas são todas tão visíveis e as marionetas explícitas o suficiente, ventríloquos da sua opinião, ai quando virem o Ennui virar aurora... e o que a mim me reservo? pois o mesmo que sempre no artifício ingente "muito quietinho. a rir-me  de não me doer nada." eu avisei que isto era decadência... vocês queriam e eu ofereci.

cores ao alto [tema e variações]

fui letra, tinta e caneta, a bandeira, alibi e o mais ali, objetivo, fé ou virtude, estética, ética e equilíbrio, chão comum e beira do abismo, eu fui a glória, o peso e a corrente, o prémio, país perdido e a expiação. mas se for abaixo, vão as cores flutuar alto. fui a âncora e o balão de ar quente, a faca, a goma e o demente, bandeiras do que te for necessário. fui o torção e o redemoinho, a dor, a pena e o galinheiro, mas se cair, as cores vão subir. se fui maldição, de lançar ao chão, fui salvação contra a parede a seguir, se extinguir, vão elas expandir. fui o esmalte, matiz e o bate-que-bate, fui cobalto, incauto no salto, se a cor sair, não há que me mate. rasguei a cortina para sair de cena. se eu for abaixo, vão as cores ao alto.

Isaías 43:19

ai quando eles virem o Ennui virar aurora e como o trópico de lado é horizonte se tiverem a esperança de que o mal não é provável a toda a hora. ai quando souberem como veneno gera mel e como a malícia mal escrita é carícia mental se viverem com a crença de que a hora é a hora e não há tempo para fel. ai quando sentirem o gelo tornar-se abraço e o calor de no verão dormirmos separados se arderem com potência de um girassol que reza até à lua. ai quando eles ouvirem a morte apreciá-los enquanto os vivos fora de horas se matam se seguirem a nebulosa não haverá mais noite fastidiosa.

danse macabre

agarro na caveira do Hamlet e solicito: — sorris para mim enquanto eu sorrio para ti? dá-me a tua melhor dança macabra! giras em voltas e danças tão alegres, a paixão escarlatina, de delirar, de escarnecer, sussurro-te: abracada-arca, não é preciso rimar, quando é amar ou sofrer. vamos lá! dá-me a tua melhor dança macabra! até o tempo e a dança marcarem o mesmo ritmo, deixa às ondas o baptismo gutural, pelo fogo purificar o que Prometeu feito anarca algum dia carregar, não preciso rimar para decidir o que fica e onde vai parar. vamos lá, dá-me a tua melhor dança macabra! tremem-te as pernas, estremecem os músculos, entre cartas e xadrez, vamos mascar rosas, larga as tesouras de podar, que ainda nos vamos cortar... para quê rimar, se já imploras sem desejar. vamos! dá-me a tua melhor dança macabra! quantas vezes o meu nome? no vazio de outra caveira procuraste em vão o ouro do meu olhar? quantos pactos com Deus pensas que nos vão perdoar? não vou rimar, se é isso que de mim estás a espe...