de feridas e escritas
afinal é o trauma um diamante esculpido. de várias facetas timbrado. de vários flocos efeitos. observável pela vesguice e pela nitidez. da prudência e da avareza. da gula e do vómito. da luxúria e da cristalina vergonha. Vénus do Nilo e sangue de Milo.
lá está diante de mim, o Caos de todos os olhos e todas as jaulas, bem abertos, bem cerradas, repletos da minha própria fúria descarregada. o cemitério de todos os meus pedestais. de antigo testamento na língua, com o contrato por assinar na mão, já rabiscado.
e dizem-me para ter cuidado, que o Caos nunca vai desaparecer e vai continuar a consumi-los até que eu descubra uma maneira de esculpir o tal diamante que persigo. as fantasmagóricas árias de todos os zombies ainda vivos, as guitarras eléctricas que me dizem que voltar para trás seria tão mais fácil. os nunca mais ecoados nas gargantas dos corvos, como unhas em ardósias, que me agitam a vontade de viver por medo.
é uma tempestade.
é ensurdecedora.
e a quatro, ou oito, não sei quantas mãos, começámos a escrever. os meus olhos reviram, o coração não me serve nem me cabe, as mãos tremem de medo da letra que vai sair a seguir. será que achar que estou sempre acima da possibilidade de paz é o pesadelo de que nunca vou acordar? acordar. o coração bate como se fosse uma boa ideia, mas não há paredes. só olhos e jaulas a olhar abertos para mim.
e de pena emprestada na mão comecei a descrever as paredes que pretendia que embalassem o meu próprio espaço. redigi-te os projetos e a abertura a concretizá-los nos meus moldes. e pensei que a precisão pudesse fortalecer um lar entretanto apagado.
o Caos e eu dançamos enquanto lhe procuro agarrar nas mãos que quero guardar junto às minhas. vivemos como gémeos que não se encontram no espelho, nem num futuro comum.
não sei bem se é uma batalha. mas eu acho que vou saber quando for o Caos a vencer a guerra.
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