danse macabre

agarro na caveira do Hamlet e solicito:
— sorris para mim enquanto eu sorrio para ti?

dá-me a tua melhor dança macabra!
giras em voltas e danças tão alegres,
a paixão escarlatina, de delirar, de escarnecer,
sussurro-te: abracada-arca,
não é preciso rimar, quando é amar ou sofrer.

vamos lá! dá-me a tua melhor dança macabra!
até o tempo e a dança marcarem o mesmo ritmo,
deixa às ondas o baptismo gutural, pelo fogo purificar
o que Prometeu feito anarca algum dia carregar,
não preciso rimar para decidir o que fica e onde vai parar.

vamos lá, dá-me a tua melhor dança macabra!
tremem-te as pernas, estremecem os músculos,
entre cartas e xadrez, vamos mascar rosas,
larga as tesouras de podar, que ainda nos vamos cortar...
para quê rimar, se já imploras sem desejar.

vamos! dá-me a tua melhor dança macabra!
quantas vezes o meu nome? no vazio de outra caveira
procuraste em vão o ouro do meu olhar?
quantos pactos com Deus pensas que nos vão perdoar?
não vou rimar, se é isso que de mim estás a esperar.

dá-me a tua melhor dança macabra!
assusta-me na lua mais cheia, na praia que repetimos,
e eu aqui escrevo na areia repetidamente, que pactos com Deus
pretendes assinar pour de certaines petites morts te libertar?
vamos lá! é até que a morte nos ponha a dançar.

dá-me a tua melhor dança macabra!
um de nós tropeça, fica ali estendido:
sou o paraíso na terra, de olhos a inchar,
na insónia a esperar, meu anjo, que decidas acordar...
não preciso de rimas quando é morrer ou amar.

dá-me a tua melhor dança macabra!
quando o luxuoso brilho da lua se apaga, nova,
quando o som dos sinos estiver pronto a estalar, 
desvanece o esqueleto, desfeito para a cova.
vamos lá! o que é rimar quando já te pude abraçar?

recolho as cinzas do Hamlet e respondo:
— tu fazes-me falta, eu faço-te rir.

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