Cegos e Correntes.
A minha voz não é uma canção de embalar. A minha presença não é um trono. As tuas conquistas por mentira não são troféus que me possas esfregar na cara. As sombras aprisionam os ancestrais na longitude. As nostalgias mortas restam numa ressurreição constante da poeira que tanto amaina como se torna num ciclone. O desejo é uma miragem de um espelho único na brancura do vazio mental, um espelho onde tu não me vejas a espreitar por detrás das portas, a atirar aleatoriamente escudos para as tempestades de setas e lanças que se debatem sobre ti. Pónei sujo, eu vivo para te tornar um Pégaso. Sou um dragão à espera de ser degolado por S. Jorge, vivo para ser afogado em absinto e me embebedar em lágrimas. Cada ferida no meu corpo deve ser fechada por frias agulhas e cada doença anestesiada por outra doença, numa orgia de seringas. Sou um urso que foi caçado para ser o tapete da tua vida, o que cobre as ratoeiras que tinham a medida dos teus pés - mas para ti eu só queria deixar os teus pés...