Matinal

Aqui, no meio do gelo
por onde raia uma aurora
triangulada por hipotenusas
onde a luz colide, reflecte e refracta
em tudo aquilo que toca
no meio destas grutas,
vejo arestas às musas.

Desta varanda pode ver-se
a reversibilidade dos abismos
o reflexo do rio no céu
e ninguém duvida 
da superioridade volumétrica
do domínio do Paraíso
quando oposto a Neptuno.
Só o gelo rasga ar e mar
como o cisne corta a simetria
numa fotografia,
num Talbot original.

Aqui, onde um narciso
se apaixonou (e voltou a apaixonar),
por cada um dos seus vários reflexos:
Ao mais ligeiro movimento,
mais um olho doirado por quem derreter.
Aqui, na fractalidade caleidoscópica
onde as flores não crescem,
multiplicam-se,
sublima e re-sublima.

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