O Reino.
Deitem-me a baixo! Sou o vosso Rei sem Coroa!
Era uma vez um Reino. Neste Reino viviam-se histórias e contos, poemas e memórias. Todo o optimismo da arte, cada lágrima vertida através de um poema contribuia para a felicidade do povo. Cada pincelada nos quadros deste paraíso era o sorriso na cara das crianças.
O Rei escrevia o Reino à imagem e semelhança da utopia que tinha em mente. E a sua mente via e juntava todos os desejos dos seus súbditos. Ele governava em direcção ao futuro, ao bom futuro, pelo Bem Maior, pela felicidade do povo. Este Rei revolucionava com os seus métodos. O arrependimento era uma palavra desconhecida, a morte deixara de existir e as doenças duravam efémero e felizes segundos que aproximavam as pessoas à condição humana.
Acabara-se a palavra distinção, diferença e qualquer sinónimo. Tudo era igual, tudo era fácil, tudo era bom. Vivia-se, finalmente, o desejo e o sonho, a espectativa e a felicidade, tudo isto mas eterno.
E assim, quando o Rei decidiu tomar o seu tempo e usá-lo a seu favor, descansar um pouco de todo o seu trabalho, ele levou consigo o seu povo. Os mais leais aventuraram-se às bordas mais longínquas do Reino, em sinal de dedicação à terra.
E a distancia consumiu-os.
Os leais revelaram-se os mais venenosos traidores e o Rei já só preveu o castigo. Este Rei que nunca tivera um segredo por revelar, este Rei que nunca deixou uma promessa por cumprir, este Reino que vivia sem esconder mentiras a não ser os sonhos do povo que AINDA não tinham sido realizados mas nos quais o Rei trabalhava arduamente.
Este Rei sim, era um deus, mas o povo era pagão.
"Mas eu sou um Rei guerreiro, eu luto pelo meu povo, pelo seu amor, vida e crenças e eles lutam contra mim? Comentam os meus métodos e arrastam-me pelo chão nas suas carroças? Que faço eu quando um povo não deseja felicidade? Que é de mim quando a igualdade não basta? Será por lhes dar demasiada liberdade?"
Porém, o Rei não os castigou. O Rei abraçou-os e coroou-os por terem aceitado, acima de tudo a condição humana. Por se terem aceitado como são e mostrado por serem assim. Beijou os seus pescoços e lavou-lhes os pés com a sua roupa.
Porque o que falta a este povo não é igualdade, nem felicidade, nem liberdade. Este povo não tem humanidade.
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