Aridez e espelhismos
Vi-te beijar espelhos poeirentos,
Dos que se formam nos cantos
Dos bocais de água, fina farinha,
Uma traça em busca de uma flama:
O fósforo torna-se cúpula
E a alma despede-se das asas.
Vi-te beijar reflexos nojentos,
De tácteis impressões e
Desbotadas sombras digitais:
Vestígios de vectores,
Dactilográfica separação onde
O corpo se refracta.
Vi-te beijar espelhos poluídos,
Quando sintonizei que não estavas,
Que a estática que havia de antes
Da criança a regredir a camelo:
Antes do pó se acumular
Numa crina branca enevoada.
Vi-te beijar reflexos poeirentos
E tive inveja de não ser eu
A beijá-los: a seguir
Ao vidro que nos separa
O que mais sobra é próximo
De um reflexo feito flor.
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