Progresso, Regresso e Ambos
"Tudo o que tenho em mim é medo", seria o epitáfio ideal. Nasceu para apreender o irreal como lei e das mentiras em que acreditou moldou o seu mundo. Na sua solidão criou a besta interior que, tanto temia, como usava para meter medo aos mais próximos - e viu-se abandonado. Viveu o medo de ser e não ser aceite pelo normal, temia todos os mundos que em si encerrava, por neles não viver. Magoou-se por tentar saltar mais alto quando a alma lhe foi o grilhão mais pesado.
Apaixonado pelo mar só respirou as suas lágrimas, por não alcançar a altura procurou a profundeza, e essa era outra mentira a encobrir. Caiu, caiu, caiu e nunca se quis levantar - a preguiça era o alento de continuar a respirar. Observou aquários com minucia microscópica, por não entender como poderia para sempre abraçar o oceano-pai. Mas o coração foi a bóia mais leve, e nunca chegou a afundar.
Um dia viu o terreno ser invadido pelo etéreo quando por fim viu um fim. Quedou paralisado num sítio isolado, para sempre aterrorizado com o toque que não deu, o erro que não cometeu e o arrependimento que sobre si se abateu. Foi a inutilidade em que se viu preso, a incapacidade de evitar isto e aquilo que o levou à mentira que o prendeu dentro de si - e aí se viu humano, aí se viu fraco, aí se viu miserável.
A busca da felicidade possuiu-o por fim, e agora que de carne, o brinquedo, que era corpo de duas almas conflituosas, viu-se com direcção. A filosofia da mudança apoderou-se dele quando se apercebeu que podia existir uma relíquia que o dirigisse, a bússola moral que nunca teve. Mas aproximando-se da grande fortuna afunda-se no seu barco e desistindo, flutua no seu zepelim.
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