jardins de granito

corta as pernas, estátua, para poderes voar.
são raízes no chão, são raízes no tempo.
corta as pernas para alcançar
deita abaixo o recém-castelo
causa e põe em causa as euforias discretas
as críticas feéricas e as preocupações secretas.
põe um pé no chão, só falta serrares o outro
uma flor azul liga-se por fios de cobre a um arbusto disperso
onde tudo onde o sol se não digna a tocar são memórias
só sabes que não são esculpíveis
na plenitude ideal da sua velha actualidade
não importa. nunca importa. alguma vez?
o cromatismo virou eufemismo
tu e eu somos a preto e branco a contaminação
tiras-me a gravata, substituis por um machado
quis tirar-te a aura e pôr-te um sorriso
ou melhor: quis falhar redondamente.
não somos todos bruxos e feiticeiros?
pedintes predecessores da premonição?
arrasta as raízes pelo mar de argila,
deixa a neve misturar-se com fermento.
cozinha os sonhos. diamantes em pó.
a perder-me nos teus cabelos, desenhar nos teus sinais.
eu gostava da maldade. agora sou moralista.

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