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A mostrar mensagens de abril, 2018

228 sobre 1 Dias; Ou 17, ou 18

228 sobre 1 Dias A luz refracta pelos vidros dos edifícios Estes fios não podem mentir acerca do que levantam Mas porque é que eu existo aqui? E como é que alcancei e senti felicidade? Deixei o meu coração entrelaçado na esperança Mais um agora, mais disto. Aperta-o até que quebre Mais uma vez, mais e mais apertado. Isso. A dor do que passa para detrás da íris cresce A preocupação, a vacância, a evitância E se me magoar? E se ultrapassar a ansiedade? Todos os dias recebo cartas do futuro Mais um agora, mais disto. Enfrento o presente decidido Cada vez mais e cada vez mais decidido. Essa luz que os teus olhos vêem invadir o dia As desculpas e os remorsos que fazem sentir pressão Aquela mesma luz que se espalha sobre as nuvens Os dias que se repetem e repetem e vão repetir O céu pálido. Ou 17, ou 18 Troca ansiedade por esperança e nunca vais perder para o tempo. Corre em direcção aos caminhos excluídos do mapa Às coisas que temes, que pensas que não existem;

Voa (Sonho)

Pintei nas asas as memórias em que te abraço, são asas fracas, mas de certeza que posso voar neste meu declínio, ó meu amor. Quem me dera ser uma águia feliz ao vento em direcção ao que o coração faz desabrochar, queimar as fotos das futilidades, manter a paisagem. Só há tempo para brincar no xadrez da vida. Perguntam se asas de cera tocam no céu, perguntam se elas podem tocar o amanhã, mas não há plano de sucesso para o espontâneo. Voltar ao nada depois de sonhar o infinito faz parecer que as ligações se enfraquecem, no entanto, estas asas resistem, ainda são fracas, mas de certeza que posso voar neste decair, ó meu amor. Num mundo vazio assombrado por um sonho que não tem fim, parece que perdemos o que mais desejamos, mas fica tu, mesmo sob estas asas duvidosas, fica junto das memórias que não podes perder, da certeza de que podemos voar neste nosso ocaso, ó meu amor. Engolidos do sonho pelo mundo miserável, talvez nadar à rebours não seja mau de todo, mesmo com asas tolas, de

Acerca de masmorras e Dragões

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Confesso que a vida é maravilhosa. Que no meio da jornada até este meio termo entre o que foi e o que está para ser, conheci um dragão ou outro. Aqui, no meio do nada, não há grande competição, soltam-se umas fagulhas e sopra-se pelo nariz, deve bastar para afastar a areia dos pés. Nas cidades, com grandes tuxedos , porém, aí sim, se sopra fogo, e como eu adoro fogo de artifício. A fúria de viver deixa os olhos reluzir ouro, a garganta a expelir fumo, faz o espectáculo de devastar as aldeias dos pequenos que são tão pequenos quanto querem ser. Os dragões não têm medo de arruinar o seu caminho até ao topo da montanha — they fuck up their way up to the top . O absinto acende e os finos fios de diamantes na mesa da cozinha entusiasmam. O que é que havemos de cozinhar hoje para esse povo, sedento por que se verta um pouco do caldeirão? Atirem-se-lhe os restos, apanhamos por eles umas quantas canas de foguetes que nos falharam o centro da testa, limpa-se a lágrima ao canto do olho a um

Ó Fortuna,

qual lua, muda, cresce, diminui; A detestável vida, que oprime e apazigua, levada pela fantasia faz a pobreza e o poder derreter como gelo. O destino monstruoso e vazio, O destino monstruoso e vazio, essa roda que roda é perversa, a saúde é vaidade desaparece para o nada escurecida coberta também me é praga; Agora, por via do jogo trago as costas nuas à tua perfídia. O destino confronta-me em saúde e virtude levado avante vergado pelo peso sempre escravizado. A estas horas sem demora toca as cordas que vibram mas o Destino arruina as cordas e toda a gente chora comigo. "noli manere, manere, in memoriam"

A Escolha

— tradução livre de "The Choice" de John Pomfret Se o céu não me dá a graça da liberdade de escolha pelo meu próprio método de viver mas, por outro lado, oferece tantas outras horas sem objectivo ou finalidade, então prefiro perder-me em beata calma e gastar a minha satisfação. Quando se nasce numa terra pequena, nasce-se construído para o uniforme: não é nem para o pequeno, nem para o grandioso, pelo que mais vale ficar no lugar que nos é reservado, com campos de um lado e árvores a fazer de vizinhos, coisas que não contêm por dentro outras coisas (perfeições da autenticidade), mas são úteis, necessárias e planas. Por contraste, é nauseante aguentar a infinda pompa de alegres mobiliários. Eu só quero um pequeno jardim, que me deixe o olhar grato, com um frio riachito a correr, a murmurar. É ao lado dessas deliciosas margens (um quadro de linha imponente) que se levantam as sombrias limas (nevermore, nevermore) ou descem as lágrimas de folha dos chorões. No fim, o estúdio,

L'Impeto Oscuro

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A distância da queda de um sonho é demasiado curta. Os mundos são demasiado pequenos para colidirem quais átomos. E é de novo e sem pesar que se me gelam as veias pelos defuntos. O resultado é um magnífico fogo de artifício, mas o que salta é carne solta, excruciada. Cometendo apenas um pecado capital. Recentemente sinto que faço o tempo submeter-se à superbia . A vontade, a vontade, poupem-me a vontade, desbastem as cabeças, guilhotinem as próprias pernas, caminhar nunca foi vontade. É que de boas intenções está o inferno cheio, mas aqui, onde a terra e o inferno se indistinguem, essa facécia revela a sua ineficácia. É natural que se afoguem os peixes que não sabem nadar. Recentemente sinto que o tempo se submete à superbia . O mal-estar, o tóxico mal-estar, a infecção odorosa de uma sala de espera hospitalar, a constante dor que não dói do osso que não temos, a planta que tenta viçar rasga o talo a si mesma por assim desejar. E é tão raro ver-se florir rosas no inverno, quanto ma

Libra

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O sol põe-se sobre o nada de novo; a lua traz uma cara nova para lhe sorrir. À medida que um cai, noutro sítio, só as copas anunciam a alteração para um clima mais frio. O resto fica com esta escura estampa do verde. Não no meio do deserto. Parece que esta área não foi seleccionada pela valsa cósmica do vento sobre os corpos celestes: a noite é clara. É impressionante como o céu do deserto tem esta limpidez cristalina que as florestas obscuras em que já dormi nunca vão ter. É surpreendente como a musa se imiscui nas inusitadas inóspitas incoerências do destino. Que padrão tem o belo para se falar de coerência, para além do bailado entre a lua e o sol num cenário estrelado? A lua com a sua inconsistência facial e o sol no seu permanente movimento de nada de novo. E ainda assim é o nada de novo que atrai por debaixo deste cobertor que joguei à estátua que esculpi do mundo: o azar. Apesar da sagrada lua, na inconstância das suas caras, ser quem melhor representa o azar, a lacuna de