Acerca de masmorras e Dragões

Confesso que a vida é maravilhosa. Que no meio da jornada até este meio termo entre o que foi e o que está para ser, conheci um dragão ou outro. Aqui, no meio do nada, não há grande competição, soltam-se umas fagulhas e sopra-se pelo nariz, deve bastar para afastar a areia dos pés. Nas cidades, com grandes tuxedos, porém, aí sim, se sopra fogo, e como eu adoro fogo de artifício.

A fúria de viver deixa os olhos reluzir ouro, a garganta a expelir fumo, faz o espectáculo de devastar as aldeias dos pequenos que são tão pequenos quanto querem ser. Os dragões não têm medo de arruinar o seu caminho até ao topo da montanha — they fuck up their way up to the top. O absinto acende e os finos fios de diamantes na mesa da cozinha entusiasmam.

O que é que havemos de cozinhar hoje para esse povo, sedento por que se verta um pouco do caldeirão? Atirem-se-lhe os restos, apanhamos por eles umas quantas canas de foguetes que nos falharam o centro da testa, limpa-se a lágrima ao canto do olho a uma nota de duzentos. O que mais? É isto que ofende? A boa vida de quem fez para a ter?

Os aldeões atiram-se uns atrás dos outros, sem escudos na mão, tão nus quanto os reis que são, para a linha de fogo, a zona de perigo. Mas, horas depois, a noite ainda se passava com um Martini na mão em Miami, se ainda desse para acreditar, longe dessas masmorras auto-intituladas.

Porque não continuam simplesmente à procura do seu azar nas cartas, na desesperada espera de que saia o ás de copas e não deixam as manilhas de ouros na mão que não as tirou por azar?

Fixa bem: a guerra não é motivada pelo lado dos dragões, que se resguardam nas montanhas com o ouro que forjaram. Uma invasão intrometida e sem modos da vida alheia não é, no meu ainda curto dicionário sensorial, uma boa intenção, seja por copas, espadas, paus, cruzes ou ouros. Seria a falta de noção à portuguesa ou o bom senso afirmar que uma invasão de um habitat costuma ser mal vista? Ou desconheço a história das recentes motivações de guerras? Eu cá não gosto de hábitos, mude-se o "rumo" da história.

É que também há muitos dragões mal intencionados. How I wish I had the guts.


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