A Escolha

— tradução livre de "The Choice" de John Pomfret

Se o céu não me dá a graça da liberdade de escolha pelo meu próprio método de viver mas, por outro lado, oferece tantas outras horas sem objectivo ou finalidade, então prefiro perder-me em beata calma e gastar a minha satisfação. Quando se nasce numa terra pequena, nasce-se construído para o uniforme: não é nem para o pequeno, nem para o grandioso, pelo que mais vale ficar no lugar que nos é reservado, com campos de um lado e árvores a fazer de vizinhos, coisas que não contêm por dentro outras coisas (perfeições da autenticidade), mas são úteis, necessárias e planas. Por contraste, é nauseante aguentar a infinda pompa de alegres mobiliários. Eu só quero um pequeno jardim, que me deixe o olhar grato, com um frio riachito a correr, a murmurar. É ao lado dessas deliciosas margens (um quadro de linha imponente) que se levantam as sombrias limas (nevermore, nevermore) ou descem as lágrimas de folha dos chorões. No fim, o estúdio, silencioso.

Mas não é por isso que a vida deixou de ser agraciada pelos grandes autores, Horácio e Vergílio em linhas de imortal sagácia e brilho de sólida aprendizagem, Juvenal, o perspicaz, e Ovídio, o amoroso, também a glorificaram, baseados em tanta volta que deram à doce paixão do amor que conhecem. Já os julgamentais que lêem as suas encantadoras linhas de arte, juntam-se naturalmente, procuram garantir que a fantasia faz melhor, que os pensamentos ténues daqueles homens de firme sensibilidade só servem para aprender a sua eloquência. Foi nessa poesia que fazia os meus exercícios matinais: nenhum outro minuto mais me contentou que aqueles alegres e úteis estudos. Como disse, prefiro um solar claro e competente em que possa viver amavelmente sem grandezas. E dou-me ao luxo por moderadamente poder gastar. Os filhos da pobreza é que não deviam resmungar da fortuna, deviam provar da minha.

Tudo o que se descreve como dor deve ser aliviado por definição do capricho. Se o Criador deu demais, então que se agradeça aos céus. Uma abundância frugal espalha-se pela casa, sem pratos luxuosos, só para alimentar, o suficiente para satisfazer e dar de comer aos vizinhos. A carne forte indulge ao vício e a comida de mimos faz adoecer em acédia, inflama o sangue. É suficiente para fazer da natureza forte e do candeeiro da vida continuarem longos e luminosos.

E ter um pequeno cofre onde guardo os melhores vinhos de cada vindima. O vinho afia o espírito, melhora a força nativa, oferece sabor ao discurso, torna o espírito jovial. Mas tal como as maiores bênçãos do céu podem ser deboche e servir ignóbeis fins, então recorre que o fresco sumo da uva possa ser pernicioso.

A minha casa não devia conhecer essas desordens, as que da alta bebida costumam fluir. Nem devia usar o que amavelmente me davam, por ser uma desonra para o indulgente céu. Se algum vizinho vier, deve ser livre, usar com respeito e não sentir dificuldade no meu retiro, nem para si, nem para comigo.

O que a liberdade, a prudência e a razão dão qualquer homem pode receber, mas os que servem as regras em demasia vivem como se a proibição oferecesse a morte pelo toque.

A vida pode ser mais confortável. A felicidade pode ser sincera e grande. Eu escolho os meus amigos, cuja companhia é um avanço para a felicidade. E em amor? Bem nascido, de humores autênticos, discreto e jovem, como os livros o sabem. Corajoso, generoso, sagaz e livre do largo comportamento da formalidade. Airoso e prudente, feliz sem ser leve, rápido a discernir e justo a julgar. Agradecido, aberto, pouco irritante e corajoso, tanto na feliz conversa como na grave sobriedade. Seríamos próximos na disputa mas nunca tenazes, tentados pela sólida razão e livres na decisão. Nem luxuosos, vingativos ou invejosos, nem intrometidos ocupados com intrigas do estado das coisas; estranhos à calúnia, inimigos jurados do despeito, sem brigas mas com robustez para a luta. Leais e pios, verdadeiros como os mártires que morrem pelo Criador.

Aí, não sentiria falta de uma permanente, sincera e substancial calma. Se o céu oferece, então eu escolho viver perto de quem me apraz. Há doçura na mente feminina que o homem não pode encontrar que, por segredo ou arte faz nascer a vida e transmite calor ao coração que carregamos nas mãos. Aí, faria todas as suas paixões, por razão descansar; companhia fácil, privacidade feliz, presunção recatada, grátis aos de mérito. Aí, teria alguém recatado em presunção e grátis aos que merecem, constante para si e só para mim. Alma justa às suas grandes acções, de prudência e sabedoria por direcção, coragem para o perigo, sem medo, apenas orgulho e autenticidade; rápido no aviso pressionado pela emergência, pronto ao bom conselho dar ou receber.

E o amor faria a expressão dos seus pensamentos ser tal que mostrasse todos os seus desejos sem impertinência. Conduta regular, júbilo refinado, civil para com estranhos, trato fácil para vizinhos; averso à vaidade, à vingança e ao orgulho, sem ter tentado alguma vez o deceito. Tão fiel amigo e bom aos outros que nada pode censurar as suas acções; então até a inveja teria de dizer que se trata do último neste cinzeiro humano.

Quero retirar-me para essa livre criatura, por inspirar nova felicidade, por dar à vida um gume límpido sem se aventurar no assalto à minha alma, sem me desafiar a aproximar-me de um segredo. Tão divino, de tão nobre repasto, o que poderia e com moderação saborear. Toda a sua virtude perde pelo uso frequente e vigoroso, que alegra os espíritos stressados nas ruínas da saúde, levados ao excesso.

Não me preocuparia um jarro litigioso por todos desejado. Acederia a qualquer assistência que podia trazer para servir o meu país e o meu rei quando me chamassem. Rapidamente iriam a língua, a caneta, o conselho e a espada contrariar disputas de advogados. Seria como caminhar em bicos dos pés num antro de leões famintos, a aguentar as feridas antes de ser uma praga para quem uma praga para mim for.

O silêncio vale um espantoso preço para se dar pela minha vingança. O que é que se ganha com isso, que não seja felicidade contrafeita por real dor? Se o Céu nos pode dar tantos anos, então que se viva em prazer, facilidade e abundância. E enquanto me aproximo da margem da vida, que tipo de relação, por não ser amorosa, podia tomar por mim todo o cuidado, enquanto preparo um melhor estado?

Então, eu não teria problemas irritantes, nem perderia as tardes dos meus dias perplexo. Espero apenas uma morte silenciosa e pacífica, sem suspiro, resignado ao respirar dos meus anos. E quando for cometido ao pó, que poucas, mas amigáveis lágrimas caiam na minha sepultura. Só então será a minha saída propícia. E todos os homens quereriam viver e morrer como eu.

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