Ofélia // Rimbaud
I Como um grande lis, flutua a branca Ofélia Na calma e negra onda onde dormem estrelas, Flutua, lentamente, deitada nos seus mantos... — E nos bosques é pelos caçadores procurada. Passam mais de mil anos pela triste Ofélia. Passa, fantasma branco, sobre o lago negro, Passam mais de mil anos por esta doce folia. O lago sugere um romance à brisa da noite. Seios osculados pelo vento que faz da saia corola, Nas ondas embalada, envolvida por um halo; Choram trémulos salgueiros sobre seus ombros, Dobram-se, brandos, sobre o seu branco brilho. Nenúfares gelam em suspiro à sua volta; E, por vezes, ela acorda, tocando num amieiro E escapa-se um passarinho de asas magoadas: — De um ninho canta o cair d'estrelas douradas. II A pálida Ofélia, branca como a neve! Porque morreu, criança, por um rio levada! — Com os ventos que descem da Noruega Sussurram segredos de amarga liberdade; E vem um fluxo, que lhe revira o cabelo, Transporta ao teu espírito estranhos sons; E o teu coração escuta o cant