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A mostrar mensagens de junho, 2022

A Água

Não é na corrida nos riachos soltos, Das lágrimas destes séculos de poetas, Que montado em saltos altos para pisar lodo, Encontro quem esclareça águas como estas. Como canta Quixote—poeta da poesia—, O torção superficial do riso em mágoa; E não encontro, nos sabores do rio e da maresia, Um filtro que torne mais límpida esta água. E o que excede este abismo do pastoril (geográfico, artístico, espiritual), Alice,  É a lógica do poderoso sonho do crime: Quando aquela grande Noite, a de Van Gogh, Preenche pacificamente o profundo azul De sorrisos roídos pelas bocas dos Titãs!

A Frieza

A Beleza, o trono azurite da turquesa prometida, Torna o coração separado da neve — como um cisne Petrificado pela inspiração — na tundra, uma investida: Existir só para chorar e nunca se poder alegrar. A frieza dos morais!, como um sonho infernal, Corrói o poema com o olhar, funde-o em artéria! E fascina nos entediados uma piada — o Ideal —, Nupcial, mas tétrica como a própria matéria. As artes derretidas nas costas das beatitudes, Que oferecem alma às propostas orgulhosas, Derretem as horas em repúdio das atitudes; É que para inspirar as próximas filósofas, Quis ser o cinzel para os mais belos mares de rosas: Nos olhos cilindradas, escuras, mortas.

O Azar

Comovido ao calor, quieto na solidão, O espírito, como um vento gélido, Na delonga da última pulsação, Desliza dedos pelo sonho relido. Para moldar um cisne tão reluzente, Esculpes—e com tão pouca audácia! Aproxima os lábios—lâminas, líquidas: O Gelo é alma e a Forma temporária. Sombras e imagens congeladas, Nas mais frias cavernas dos pólos, Surgem em vapores, entre as esmeraldas... — Foi muita tinta esquecida Com o frio, sob a ponte, pelo gelo, Na luz, longe do calor da vista.