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A mostrar mensagens de janeiro, 2023

Bárbaro // Rimbaud

Passados os dias e as estações, os seres e os continentes, A bandeira encarnada sob a seda marítima e as flores árticas (das que não existem.) Livre das velhas fanfarras do heroísmo—que ainda assolam o coração e a mente—longe dos velhos assassinos. Ó! A bandeira encarnada sob a seda marítima e as flores árticas (das que não existem.) — Ternura! Das lareiras chovem rajadas de gelo, — Ternura! — fogos à chuva no vento de diamantes, cuspidos pelo núcleo que eternamente carbonizamos. — Ó mundo! (Longe dos velhos retiros e das velhas chamas, ainda ouvidas, ainda sentidas,) Fogo ardente e espuma. A música contorna os abismos e as colisões entre os astros no gelo. Ó ternura, ó mundo, ó música! E lá, todas as formas, os suores, as cabeleiras e os olhos a flutuar. E as lágrimas brancas, efervescentes, — ó ternura! — e a voz feminina chega à profundeza dos vulcões e das grutas árticas. A bandeira...

Proveito Caveiroso

Tecidos nutritivos agarrados a ossos, Vermes cegos que se afastam da luz, Quantos preferem afogar-se nos poços A aceitar a decomposição que os seduz. Incidências que nos remordem (enquanto lhes roemos o intradorso) Dissidências para uma desordem (para os outros fica o remorso) Esqueletos a nadar no fundo do quintal Ou no bem limado crucifixo do Anticristo Qualquer outro feito: puramente acidental. E é este um trabalho mal visto Fagulhas de sangue, chuva horizontal— De todos, o menos imprevisto.

Apetite pelo Nada // Baudelaire

Esfriado espírito, espantado amoroso pela luta, O esporão da Esperança que acendia esse ardor, Já não te quer montar! Vai, então, deitar-te, Velho cavalo de pés que acertam em cada obstáculo. Resigna-te, meu coração; dorme o teu sono, selvagem. Espírito exausto e vencido! Para ti, velho saltimbanco, O amor já não tem gosto, não tanto como a disputa; Então adeus, cantos metálicos, suspiros de flauta! Não tenteis de prazeres mais um coração aborrecido! Adorável Primavera que perdeu o seu odor!  E o tempo engole-me minuto a minuto, Como a imensa neve pesa sobre um corpo; Contemplo de alto as redondezas do globo E não procuro mais o abrigo de uma cabana. Podes, avalanche, levar-me com a tua queda?