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A mostrar mensagens de maio, 2016

rant #abismo

há um abismo por que todos passamos. que nos precede, procede e sucede. o da escolha, e a única saída é o salto para a queda livre. posso achar que ninguém sabe o que é sentir a força que puxa, chegar à berma e pensar que todos os outros tiveram a oportunidade de ser puxados para trás ou tiveram a capacidade pessoal de virar as costas e evitar a tragédia clássica (cujo único movimento nunca deixou de ser a queda). quando vejo, aos outros é separado o destino do salto antes do consumo: eu fui consumido e tenho de viver neste meu próprio frasco vazio. estou exausto do vidro, da pureza da transparência que tantos julgam como luminosa ou mesmo iridescente. e que onírico que isso é. por muito que eu queira ceder ao abismo, eu não o faço, eu deixo-me transparecer a mim mesmo. deixo o vazio interior sair pela visão e não o mascaro mais. para quê, se a queda é o único movimento natural? se a gravidade é uma força que puxa mais do que o físico, é um vector natural, sem projecção ou alusão cultu

rant #ferida

tu és o olho do furacão que tens dentro. que nunca viste de tal maneira cá fora. que cresce para que as fronteiras do contentor sintam as suas medidas de contenção questionadas. sempre a querer sair, sempre a encostar-se à berma do interior. uma balada sem leitmotif, um constante crescendo na sonata à maldade: o ocaso de tudo o que é bom e luminoso. tu tens em frente a luz ao fundo no tunel, mas à volta o negrume da fúria. "tens o diabo no corpo e a voz da razão". e a nostalgia dos negócios em que o mal compensou. eles têm razões para dizer que uma vez a nadar no negrume basta para viver para sempre afogado em petróleo. e as primeiras reacções são óbvias: cravar-lhes a mão no peito e apertar o coração, ver a luz escapar dos olhos, como tantos antes perderam a esperança às minhas mãos. mas nunca o faço. nunca reajo bruscamente. por qualquer viés do destino que me diz que pode haver esperança na terra devastada pelo caminho da luz. sei bem que a justiça é um compêndio de medida

rant #carnivalle

(a um concerto de Fato/Feto no meio do que para mim é um purgatório) há uma tendência, uma estranha tendência e ó que tendência de negar a vida enquanto nela, é necessário, é mais vívido e radical negá-la que tomá-la. e que culpa temos nós que em nós os químicos tenham um efeito colateral? acordar na vida depois da ficção deixa a desejar, acordar de um sonho deixa nostalgia do si mesmo, dos poderes da imaginação anterior, primal, animal. tomei um comprimido cartesiano, queria dormir e queria partir... "e a cama estava a arder". dei-me no circo, de trapézio facial pintado, o pó de arroz fugia nas correntes de suor projectadas pelo calor das luzes. as luzes cegam-me. tapar a cara não é abrigo suficiente na multidão de zombies que não queres que te vejam. "fui parar à zona norte da cidade". as estrelas para que olhava eram mais luzes, mais naturais agora que dissipadas no meio do cérebro, que já não são os olhos que vêem mas a mente que projecta. as estrelas eram as

A Espiral da Morte

O taberneiro trouxe-me para uma piscina que se abria no casino para todo um rio subterrâneo maior. Este rio é o Acaso e tem saída para quatro afluentes: o Olvido, a Falência, a Vitória e a Regeneração. Estas quatro saídas (ou re-entradas) são sorteadas, mas tendem a acertar afincada e duramente nos réus do juízo. No entanto, neste nosso ocaso, sublinhar que algo mudou é tautológico. São águas que te levam em direcção ao pós-vida, mas ao contrário de te aperceberes pela passagem das águas que algo mudou, não são as águas que passam por ti, mas sim tu por elas. O único julgamento final, como disse, é deixado ao acaso. E o acaso é produto de uma ocasião em que o movimento de cadência leva à queda dos peões no jogo. Na vida movemo-nos num gigante tabuleiro de xadrez, onde, para os deuses, só existem peões de vidro translúcido. É na vida de cada um que se decoram reis e pintam tabuleiros e peões de torres, cavalos, bispos ou rainhas. Neste nosso ocaso não existe a linearidade do jogo de x