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A mostrar mensagens de maio, 2023

Antígona de Gelo

À luz fria reflectida numa catarata que não gelou, vi um enxame de olhos focarem-se no que se deixou por penas traçado, puro vitimismo passado.  Os lençóis sujos, as sombras largadas, as jóias que deixaram um trilho de luz,  os amigos que só foram sonhados.  Esta acrópole gelada, sobre um cemitério, sobre tantos, montados por cima dos outros. Jazigos plantados em mausoléus: gelados.  Na vez de cadáveres: estátuas de gelo e nada aqui derrete, tudo fica, tudo recorda, tudo ainda geme ao frio. Espirais da luz turquesa, nas dores do corpo,  tremores na face transtornada, as lágrimas—estalactites, no preciso momento em que surgem.  Nada vai, tudo fica.  E se plantei cemitérios, se moldei quimeras nas geadas (quando quis formar rosas líquidas), foi porque nada ficou e eu tive de fazer ficar.  Se estes jardins estão assim gelados, não são para enxames de agora, mas para quem encontrar a minha alma, lançada num iceberg, afim de bicadas de picaretas —  narigadas do passado — para a voltar a cro