Mensagens

A mostrar mensagens de junho, 2017

A Harpa, o Fogo e a Esmeralda

Imagem
"Que lindo é o incêndio visto por uma esmeralda", Nero, enquanto voam fagulhas que cheiram a cadáveres, como passeiam os dedilhados pela harpa. Pelo chão, os corpos esturricados são provas de um crime extremado. "O fogo nunca é deixado ao destino, ele mancha no mundo o acaso". Neste mundo de queimados e ateadores, quem é que pode pegar no códex e alegar-se moralmente superior? Quando todos nós jogámos fósforos em busca do domínio da vida alheia? Quando aqueles pobres não são mais desesperados que estes desesperantes, que se pensam ricos? Neste mundo vestem-se as sombras como véus, como cerejas no topo de bolos, por cima dos corpos e nunca por debaixo do sol; neste mundo em que a sombra é um chapéu, quem é tem o delírio de calçar saltos e considerar o certo e o errado? Quem é que pode ver de cima o que o fogo domina? (E que alta tem de ser a torre). Se podemos admitir que há uma jóia em cada um de nós, constantemente lacerada e lentamente transformada quer pela

Responsabilidade

Imagem
escorrem pelas montanhas douradas esmeraldas choradas pelo corpo esculpido agora e bordado - de riqueza e prazer. será que já nos perdemos o suficiente para ser indistinto o que nos fizeram do que nos fizémos? que jóias são estas e de quem é aquele sangue? como passa depressa a noite, a enrolar mais uma mortalha. as cartas pintam-me as rosas de vermelho e as maravilhas revelam dúvidas lógicas. espera até que anunciem o teu nome. da lua escorre o suor de nos ver falhar, o sol ilumina a medo o nosso percurso, (a tapar os olhos, querendo ver o terror) e os candeeiros são os meus melhores amigos, quantas vezes não os abracei, para não terminar a noite a trocar saliva com o alcatrão? e monto o trono a fósforos no palácio projectado nas ruínas dos nossos sonhos. prestes a ti, prestes à fagulha, esse pecado original, que foi dançar na minha tempestade, a que alumies o nosso equinócio. então aí tens: a jogar à macaca em volta das nossas mentiras, eu posso não s

La Chute

Imagem
ou tudo o que temos. ninguém se questiona a respeito da face que fica virada para baixo de um dado que cai. nem tem de se preocupar: apesar de ser a face que segura contra o solo todo o resto do corpo do dado, o propósito de um dado esgota-se na face que fica virada para cima. serve para o que serve. esta face de cima é normalmente notada com números de um a seis. os jogos só avançam e os factos só se concretizam com a queda, a conta e os passos. um objecto tem-se a si mas o que é se não existirem acidentes? melhor, de que serve? um dado parado aponta sempre o mesmo número, permite avançar o mesmo e pré-determinado número de casas. talvez seja o caso: ver-se no dado um objecto estético da contemplação, armazená-lo numa estante e ignorar o que mais pode dele surgir: ganha musgo. o problema é a queda e é a ideia de acidente que vêm juntas. são acidentes de densidades aéreas imperscrutáveis que fazem o dado girar durante a queda. o jogo só avança, e com ele os factos que só se dão,

I sing the body electric I+IX

Imagem
I Eu encanto o corpo eléctrico, Os exércitos dos que amo engendram-me e eu engendro-os, Eles não me vão deixar até que deixe com eles, lhes responda, E discorrompa, e carregue com eles à carga da alma. Era dúbio que os que corrompem o corpo se escondem? E se esses que maculam os vivos são como os que maculam os mortos? E se o corpo não faz tanto quanto a alma? E se o corpo não é a alma, o que é a alma? IX Ó meu corpo! Não me atrevo a abandonar o teu género noutros homens e mulheres, nem [os géneros  das partes de ti, Acredito que o teu género é levantar ou cair com o género da alma, (e que isso é a alma,) Acredito que o teu género se vai levantar ou cair com os meus poemas, e que esses [são meus poemas, Poemas dos homens, das mulheres, dos jovens, das esposas, dos maridos, das mães, dos pais, [do rapaz, da rapariga, Cabeça, pescoço, cabelo, lábios, dentes, céu da boca, gengivas e dobradiças, Nariz, narinas do nariz e a partição, Bochechas, têmporas, testam queix

Melo

Imagem
L'art, mes enfants, c'est d'etre absolument soi-même Verlaine e o terror, e o horror, e a glória, e a dor, e o drama, a merda do melodrama se só se é arte quando se é autenticamente e se o sonho é elevador para os submersos se se respira diferente a cada hora do dia e a repetição é utopia destinada ao falhanço a melodia que me guia e engole como enguia que me choca e desloca no maremoto da tempestade que prendeu a barcarola engulo-a a tragos nos absintos consequentes - no fundo, no fim, no resto - inconsequentes desliga-se a vida da tomada empurra-se à tomada a onda as nossas regras e sonhos o chão é eléctrico e a dança ecléctica o episcopal tornou-se banal e os sonhos do céu viraram infernais e o horror, e o terror a dor e a glória, o melodrama e a merda do drama.