La Chute

ou tudo o que temos.

ninguém se questiona a respeito da face que fica virada para baixo de um dado que cai. nem tem de se preocupar: apesar de ser a face que segura contra o solo todo o resto do corpo do dado, o propósito de um dado esgota-se na face que fica virada para cima. serve para o que serve. esta face de cima é normalmente notada com números de um a seis. os jogos só avançam e os factos só se concretizam com a queda, a conta e os passos. um objecto tem-se a si mas o que é se não existirem acidentes? melhor, de que serve?

um dado parado aponta sempre o mesmo número, permite avançar o mesmo e pré-determinado número de casas. talvez seja o caso: ver-se no dado um objecto estético da contemplação, armazená-lo numa estante e ignorar o que mais pode dele surgir: ganha musgo.

o problema é a queda e é a ideia de acidente que vêm juntas. são acidentes de densidades aéreas imperscrutáveis que fazem o dado girar durante a queda. o jogo só avança, e com ele os factos que só se dão, com a queda. se há algo que nos une para além da irremediabilidade da morte é o vector descendente, que traça o trajecto do dado que cai. e com o dado, todos os outros átomos, puxados numa direcção decadente.

para baixo e sempre para baixo. os nossos átomos e os nossos corpos. que fique apenas o que ficou virado para cima. nem que seja um epitáfio.


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