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A mostrar mensagens de agosto, 2013

Canvas

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Pintam-se linhas da luz que prisma por entre a erva, Pecaminosos vales de flores de papel e nuvens roxas Defloram-se e violam-se essas virgindades-estéticas Corta-se o branco com os esgares de outro espectro. Preto. Apago o cigarro nas selvagens cicatrizes do braço (do simbólico perfurar da indústria no natural) Escorrem tons de vermelho desta alma tão venal Acorrem anjos para alcoolizar o podre intemporal. Pistolas. Turquesa. Anjos mortos. Sobre campas pintam-se morcegos A aliança é a permissão do podre acto libertino A coroa e o trono têm-na a idiossincrasia: Afoguemos por segundos quem aprendeu a respirar. Branco. A nossa marca é este contaminar O acto jaculatório que conspurca a selva Tememos quem quer retomar no canvas o seu lugar; Tememos apenas a nossa hipócrita-anestesia.

Pavimentar

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Ninguém o questiona na sua menoridade. Ali está ele debruçado no chão a esculpir o caminho que um dia vai caminhar. Molda-o à sua medida e à medida humana: uma que todos possam pisar, de dimensões razoáveis e estáveis. É por aqui que um dia o céu vai dançar. O cimento de pó cósmico, do suor das estrelas que já dançam, iluminadas pela solidão voyeurista da lua. O pedreiro, pedra a pedra constrói estrada que, quando seca, testa com os próprios pés: não fosse construir uma ponte sem outro lado, não fosse preguiça a segurar-se no próprio braço, crendo-o um ramo. Finalmente, em orgulho e cansaço, o pedreiro cria o seu subvalorizado artefacto. A sua arte&pragma é ignorada. Resta-lhe o vazio e o caminho que a tantos próximos vai servir... mas no fundo só cumpriu a sua função. O caminho para o Inferno está cheio de valsas que os insignificantes compuseram para as galáxias. "Transforma-se o amador na cousa amada"

Fogo & Sonho Tribal

A perda da imagem num mundo que se rege pela aparência, pela estesia, resulta numa desmistificação do corpo morto, que se vê transfigurado pelas chamas. O pó do corpo, agora desvirtualizado, perde toda a sua iconicidade: o signo-corpo está por toda a vida, pela identidade, atordoando-nos num corpo imóvel, invivo. O signo-pó, por outro lado, perde toda a sua conotação identitária, a imagem passa a ser a de um tributo à identidade, essa, que se esvaiu do corpo. O pó perde a capacidade de nos assombrar fazendo-nos questionar sobre a presença ou ausência do ente querido. Mas não nos pode assombrar, o original transfigura-se num simulacro, infundado, mas que implica totalidade e mesmidão material. Se vivemos com o recalque do sonho primal da possibilidade de sermos assombrados, confirmamos que é à essência que se deve ser prestado culto. Ao fim, ao cabo, a formação da identidade resulta da intertextualidade tecida entre as nossas vidas e as dos nossos entes queridos. O corpo é o veículo d

Outro Dos Repositórios

Aos tempos mais que perdidos que não passámos juntos. Vejo no cair das estrelas um reflexo tão magnifico quanto triste. Como o fabulado cantar do cisne morrente. Mas vejo na fixidez das outras um perdurar que te acompanha: uma estaticidade, uma invulnerabilidade à decadência, um palco santo. Somos puzzles como os gregos diziam, de opostos que se atraem, de iguais que se repelem, num magnetismo pré-determinado. Há faíscas nos nossos olhares e muitas vezes temo por elas. Há uma grande nódoa negra no sol de hoje. Há luzes que não servem para mais nada se não aterrorizar-nos com a imensidão das nossas sombras. Tu fazes-me sentir humanesco: um animal no corpo de outro que se via superior, porém, nada mais que um animal. Quem me dera saber aguentar, mas resguardo-me em cigarros e ídolos e deixo estas notas. Já não posso limpar a merda dos nossos sapatos, mas que fique pelos pés, os corpos são nossos. O tempo distende-se e os comprimidos não fazem o tempo voltar atrás... só o poderiam parar

Imagem do Céu

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Caminhamos guiados pelas nuvens, desacorrentados do chão, libertos de monstros inocentes... de nós mesmos. Nesta pureza mecânica se pulsam as veias de electricidade, da fricção dos corpos. Desligados reúnem-se num propósito: o olhar o céu. No dia vemos a nossa cartografia reflectir uma existência externa, a luminosa promessa da relação. Na solidão da noite somos iludidos pela sombra; a existência permanece, ela reflecte a nossa luz. Eléctricos mas nunca estáticos, nunca sós e nunca infames concebemos correntes que nos libertam no seu puxar. Sentimo-nos livres no peso, asfixiados pela leveza e tudo isso é só... perder as palavras sobre o que é viver neste agora...

História

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Da Mentira Escrita Escreve a tua própria realidade. Recomendaram. Sempre fiz por isso, por me expulsar a mim mesmo do natural fluxo da história. Alimentei o mecanismo do veneno: da escrita contra a fala. Deixei em tinta as marcas dos meus dedos que acariciavam a parede. E esse carinho ficou lá para sempre. Foi a única coisa que alguma vez perdurou, só isso venceu a morte. Entre a covardia do discurso proferido - passível, e rapidamente, de esquecimento - e salvaguardar tanto genialidades quanto idiossincrasias na tinta-eterna, preteri o óbvio. Em controlo, descontrolo. Na inocência, os maiores horrores. Compreender, interpretar e significar são tragicomédias, lançadas para o infinitésimo da proximidade ou para a mais longínqua diferença. Um som mal ouvido ou entoado valeu genocídios - e ainda acreditamos na genuína bondade humana, quando os nossos anjos e cyborgs nos transtornam mais que as suas finalidades. Pavimentámos os caminhos do inferno com os nossos nomes em gritos de tinta