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A mostrar mensagens de julho, 2023

Atreve-te // Andréas-Salomé

 Atreve-te, atreve-te, atreve-te a tudo! Não precisas de mais nada! Não tens de te ajustar ao padrão, Nem desejar ser tu mesmo um padrão. Acredita que a vida te vai dar alguns dons. Se queres uma vida, aprende... a roubá-la! Atreve-te, atreve-te a tudo! Seja na vida, No que és, e no que quer que aconteça. Não defendas um único princípio, Mas algo muito mais maravilhoso: Algo que está dentro de cada um E que arde como o fogo da vida!

O Todo

Foi só preciso ouvir o cartomante, Para assinares o pacto inadvertido: Deste ouvidos por um lavagante, E o Ideal da Beleza foi corrompido. Entra a carta do Diabo pela janela, Numa noite, a meio da vigília, Ondulando sobre a secretária, E abre a boca para dizer "Vou-te contar, vais ficar a saber: Como é que, entre tudo o que é Belo, Podes adivinhar o dom do seu encanto. Como é que entre o carnal e o divinal Se formula a magia do prazer. Queres saber qual é a obra mais doce?" E agora podes responder, aborrecido: "Se na Natureza tudo é rígido, Nada existe com menos densidade. Se na Natureza tudo desabrocha E consola com o abraço da Noite; Se na Natureza a harmonia é lei Que preside à Beleza do conjunto, Haveria alguma impotente análise Para detectar os intrépidos acórdãos? Se na Natureza tudo me rapta, Metamorfose mística dos sentidos n'Um, Então ignoro a partícula que me seduz. Ela expira música. Ela canta perfumes!"

A Parte

Quanto tempo falta? Para que a peça de gramática Configure um jardim de granito, frígida arte? Para desabrochar no alvo, da derradeira aurática, Quanto falta, cadáver, para encontrar aquela parte? De um puzzle subtil, para fazer da alma o Atlas E demolir as peças de armaduras de papel,  Afim de contemplar rio, ao espelho, montanhas altas A gelar na ideologia infernal que soluça fel? Nunca me coube o papel de conhecer os teus Ídolos, As badaladas das beladonas, prismas, estátuas de lodo, De peitos martelados e frontes derretidas — Amor, O Teu — não mais que penumbra perversa, sombra Do ceifar da própria Morte, a rodopiar como um morcego, Faz brotar em espirais espinhos nas roseiras do cérebro!