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A mostrar mensagens de agosto, 2018

Se

(tradução de "If" de Rudyard Kipling) Se te podes controlar quando tudo em volta Se perde e te atira a culpa, Se te podes confiar quando todos duvidam, E ainda concedes a sua dúvida; Se podes esperar e se não te cansa esperar, Ou ser mentido, não lides com mentiras, Ou ser odiado, não dês espaço ao ódio, E ainda parecer bem, nem abusar da sensatez: Se podes sonhar — e não fazes do sonho amo; Se podes pensar — e não fazes da ideia dona; Se podes conhecer o Triunfo e o Desastre E tratas esses impostores de igual modo; Se consegues ouvir a verdade que falaste Retorcida por patifes para enganar os tolos, Ou ver as coisas a que deste vida quebrar, E descer para as reconstruir com as ferramentas: Se fazes um montão de tudo o quanto ganhas E o arriscas num turno ao jogo de dados, E perdes e começas de novo com os teus princípios E nunca respiras uma palavra acerca dessa perda; Se podes forçar o coração, os nervos e os músculos A servir o teu tur

rant #TPL

Poslúdio a única demanda da vida, desengano de alma triste e cedo, é pela bússola do desejo. por um caminho decorado de plantas cobertas da cinza de um incêndio que passou demasiado perto. foi o incêndio que traçou este caminho, levou os lírios e partiu os vidros, rompeu o espelho e a bússola, deixou tudo no chão. a bússola está desfragmentada em madeiras e mercúrios, sob as pétalas destes lírios todos eles maus augúrios. às labaredas que mancham de negro as paredes, ao incêndio que vimos por uma esmeralda. um brinde às frustrações das devoções, um palco para o egoísmo rodeado das cópias das cópias dos entes queridos. um palco medido a palavras, traçado a pena, sustentado por ideais. uma peça a sós, uma peça de nós, decorada de mim e por mim. às frustrações das devoções e à ironia que só faça falta o calor quando se não tem verão. aí os lírios podiam crescer e manter as aparências dos delírios deste espelho, cheio de pó. o pó acumulado por cima do espelho inútil. um reflexo que nã

Pegar fogo à cena

2ª Cena do Acto III: Na praia Um caixão de vidro é carregado por cima do público e até à água. Logo, Eu pego num arco, ateio fogo à flecha e lanço-a ao ar. A órbita descrita é quase perfeita, uma subida seguida de uma descida. E com elas o dénouement desta história que já não está por contar. É o fim do Caos, no fim deste abismo. É aqui que vamos deixar as cinzas do sufocado afogado. O público aplaude e agita lencinhos brancos como quem faz adeus. O caixão arde no lento rebentamento das ondas. (ouve-se o som de uma trompete estridente ordenar a paragem da peça.) Que som é este de uma trompete que faz hesitar o seguimento normal das coisas? E quem é que tem a dignidade audaz para fazer parar um funeral? Que sucesso se pode esperar de uma tal decisão feita atitude? (entra uma pessoa de calças cremes, T-shirt entalada nas calças e óculos à ponta do nariz.) Encenador : Pois, nem mais nem menos do que o encenador. Faço-me anunciar deste modo, com a pose e a compostura de um rei do d

A inocência e a perversão

1ª Cena do Acto III: Na praia (a cortina vermelha reabre, no centro do palco está sozinho um corpo de costas, sobre o que parece ser um areal cortado pelas ondas que o banham e lhe alteram a fisionomia. a água circunda todo o palco que é circular.) Caos : Estar aqui faz sentir o falhanço, o insucesso respiratório, a tortura de água. Aperta-se o tempo e abre-se a ferida, escoa o líquido esmeralda pelos furos do penso e tinge-se o corpo de petróleo. Não, o Caos não funciona aqui. Voz de fora do palco : Tudo erra, mas só se aponta. Tudo era e já não se conta. Tudo erva, mas sabe a ponta. Caos : Se vires o termómetro, pede-lhe a minha febre. Remove-me os parâmetros, tempera-me com mercúrio. Faz daquele pigmento a cocaína turquesa, o mesmo pigmento azul que sustenta este figmento. A lastimosa dificuldade lastimável e o inestimável: a esperança de um coração sem ninguém. Para que se hão de resolver os enigmas, se o problema é sempre esse: a viagem é dura para os escombros de um sant