rant #carnivalle

(a um concerto de Fato/Feto no meio do que para mim é um purgatório)

há uma tendência, uma estranha tendência e ó que tendência de negar a vida enquanto nela, é necessário, é mais vívido e radical negá-la que tomá-la. e que culpa temos nós que em nós os químicos tenham um efeito colateral? acordar na vida depois da ficção deixa a desejar, acordar de um sonho deixa nostalgia do si mesmo, dos poderes da imaginação anterior, primal, animal. tomei um comprimido cartesiano, queria dormir e queria partir... "e a cama estava a arder". dei-me no circo, de trapézio facial pintado, o pó de arroz fugia nas correntes de suor projectadas pelo calor das luzes. as luzes cegam-me. tapar a cara não é abrigo suficiente na multidão de zombies que não queres que te vejam. "fui parar à zona norte da cidade". as estrelas para que olhava eram mais luzes, mais naturais agora que dissipadas no meio do cérebro, que já não são os olhos que vêem mas a mente que projecta. as estrelas eram as janelas das casas da cidade. olhei para cima, mas vi o chão. entrei por uma delas, a correr, entrei pelas traseiras, a correr, não encontrei ninguém a correr. entrei pela sala, a correr, e eis a multidão. o eterno retorno. aqui e aqui e aqui. as quatro saídas possíveis estavam-me vedadas. estávamos na parada dos mortos, de mãos dadas, os peões iguais de máscaras diferentes. se calhar, um raio-x à alma revelaria a verdadeira igualdade essencial. ao menos há uma outra igualdade projectada, teorizada: cada um tem uma máscara diferente. uma máscara que não pode nunca tirar. um carnaval eterno na vida que se revela e rebela na morte. "abri os olhos quando me morderam, pensei que era carnaval, mas quando vi estava no meio da orgia e é bom quando nos pegam na mão, e é bom sentir amor ou o sexo de alguém, mesmo que seja Carnaval".

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