O Relojoeiro

Era a hora do Relojoeiro regressar à oficina. De devolver tempo a quem tinha a audácia do perder. O instante que mais me atraiu na sua era um facto bem recôndito: que todos os relógios estavam certos ao milésimo de segundo, ou seja, que cada tic estava coordenado na perfeição. Conjugando-o com os vinis de sua predilecção, cada toc era o perfeito eco do ritmo de uma percussão.

Mas deus é irónico e gosta, não dá simplesmente dons sem troca e ao Relojoeiro sacou o ouvir. Que outro serviço lhe poderia prestar um relojoeiro? Se o demiurgo podia se bem entendesse fazer do dia uma hora, ou da hora a minha vida. Confiante na memória e no bater do coração, o Relojoeiro via as horas no conjunto de relógios, era com o olhar que as acertava.

... Muitos anos a girar tempos.


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