Esplendor da Lua

— tradução de "Splendeur de la Lune" de Paul Claudel

A porta de lã abre-se para a minha cegueira: com esta chave que me liberta, com esta despedida irrepreensível, com uma misteriosa amenidade animadora, com este reencontro fetal, com o coração a explodir silenciosamente de respostas inconcebíveis. Assim, entendo: que acordo e adormeço.

Deixei as quatro janelas numa turva noite sombria e agora percebo, quando saio para a varanda, costumo ver toda a capacidade do espaço preenchida pela tua luz, ó sol encantador! Longe de inquietar, o fogo que se levanta do fundo das sombras consome o sono e oprime com chicotadas de luz. Mas não é em vão que, como um sacerdote preocupado com os mistérios, deixo a cama para poder envejar esse espelho oculto. A luz do sol é agente da vida e da criação, nas quais participa a energicamente nossa visão. Por outro lado, o esplendor da lua é par da contemplação do pensamento. Despojada de tom e calor, só a lua nos propõe, a mim e à criação, pintados de negro em toda a sua deslumbrante extensão. Solenes orgias antes do amanhecer! Contemplo a imagem do mundo. E esta grande árvore já floresceu, direita e solitária, como uma viúva branca lilás, nocturna, coberta de diamantes luminosos.

Ó sol da meia-noite! Nem no topo dos polos o céu vertiginoso, nem a vermelha luz do Touro, nem o coração desta árvore, nem este planeta que se revela quando se levanta a folha descobrem: claros topazes! nem é eleita a rainha; mas lá em cima, a mais distante estrela, na sua explosão em Nova e perdição em tanta luz, faz os meus olhos baterem de acordo com os golpes do coração, que não a reconhecem, mas que a viram desaparecer.

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