Curiosidade Derretida

Como o caracol, o poema do mundo se vidra,
Remorsos, angústias: blocos de gelo deixam de ser
Como eram, ao escorrerem para a torpe e fatal hidra,
A deleite no declínio passou a tortura d'água a saber.

 Ainda não sorveste deste bloco, ó mortal,
Que aguarda as tuas finais impressões digitais
— Derrete. Separa. Das tuas lágrimas, o sal
— Um sal particular: de sádium e iões, cristais.

Derramou-se tudo por cima do livro fechado
E em pasta de papel decaíram civilizações
Deixado derreter, o poema não foi emendado:

Sem demanda ou reviravolta, seca com a aurora
Estátua de papel, o livro molhado do bloco derretido,
O tempo contado. E mais um rascunho jogado fora.

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