Olhar e Tempo

Recentemente olho para trás para me aperceber da perfeita bipartição do mundo. O que não está atrás, está à frente, o contrário de dentro é fora, onde há um cima há um baixo. E na maioria das vezes tudo o resto se resigna a isto: ou magoa ou não magoa. O aborrecimento de descobrir tudo isto é da ordem da dor, pela inconveniência, pelo estropiar da maravilha que fica talhada como uma Vénus de Milo.

Pessoalmente, acredito que a frente do corpo só o é por ter os nossos olhos. Também será por isso que deixamos para trás tudo o que fica atrás das costas: o que os olhos não vêm o coração não sente; não o podemos rever ou reiterar, por ser um espaço e um tempo por que já passámos.

Vivemos numa ponte entre duas mortes. Ou virtualmente petrificados no dubio já-foi ou inconstantemente liquefeitos no que poderá-ser.



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