decadência

não se sofre para além do poético. para além do vómito no palco, da fotografia inglória do sorriso demasiado forçado. talvez metamos na cabeça que sim, mas não se sofre para além da impostura. de um eu negativo que diz que não diz. que não tem para além da máscara que ganha pó a cada puxar do lustro. muitos sins que são nãos. o que não é propriamente sofrer. e dizê-lo? e forçá-lo num martírio de vanglória? num suicídio remediável? na vela do barco sobre a qual pintaram um furo ou projectaram um fogo? e eu não sinto a cara.

talvez seja outro desses momentos em que o céu não arde mais nas costas que as picadas de mosquitos. talvez esteja a remediar com remendos as fracturas por preencher da vida. da realidade, quiçá? a memória é um quadro pintado de manchas, manchas visíveis, através das quais é impossível ver. não é translúcido, isso sei. admita-se que passou do olho ao cérebro a tintura negra do nada, do vazio, do impreenchido. o que podia muito bem ser branca transparência, é tintura, é iodesco.

somos cegos na temporalidade. talvez antes do big bang só tenha existido escuridão. o preto parece ser a verdadeira origem. uma linha que se traça e divide os espaços brancos na folha de papel. que prosódia racista. o abismo uterino do qual rastejamos. a noite que precede o dia e não termina com ele. desculpas poéticas? e o propósito é a pergunta na mente de toda a gente, não é? quem me dera ter resposta. corvos, redemoinhos, dentes brancos brilhantes. há quem se coce e corte para libertar a escuridão guardada. mas desde pequeno que me joguei de cabeça. culpem o messianismo fascista totalitário de soluções últimas para uma só pessoa, escondidas por entre promessas da igualdade. nascemos a chorar. porque não podemos ver uma simetria mortal?

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