13. Lobos

as nuvens dos cigarros pintam sinfonias. perdes o fio à meada a fugir ao minotauro. danças, no meandro um entretanto, um passatempo, apenas um pranto. não és. não estás. transtornado que nem um meteoro no leito da cratera. perdido, lá em baixo, num bunker, as velas, as armas, mais ninguém. 

perdidos e achados, às portas do purgatório. chega a altura do último shot. um último jogo de disputas com a sorte da vida. e todos os vultos de todos os olhos conhecidos, velhos amigos, presenças ausentes, e os seus perfumes... todos se debruçam ao teu abismo.

se eles soubessem no que te tornaste. no quanto uivaste, no quanto berraste e não perdoaste. és selvagem para amar. se ela soubesse a besta em que te fizeste. és demasiado selvagem para o amor.

escuta um poema que li no outro dia: este presépio é decorado a corais, conchas e abstractismos do fundo do oceano. a nova ambiência do bode expiatório. umas raias por entre ondas, umas lampreias que chocam o olhar. e tu sabes que é natal, mas custa respirar. aquilo que pensas que é ar é mar. 

e estão lá todos os que preferias que não tivessem entrado.
e todas aquelas que preferias que não tivessem ficado.

pega neles, esconde-os a todos. depois de todos estes anos: sempre. leva-os daqui, imploro-te, cobre-os com lã, dá-lhes um casulo de vida e permite-lhes a justiça de viver. esconde-os longe, por favor, limpa-lhes o pó com pétalas de rosa, atira-lhes o baralho e deixa-os à sorte de jogar.

e se Maria nunca tivesse conhecido José no bar? o pão já estaria feito? o peixe já estaria frito? e se Maria tivesse ficado quando José foi queimar umas ervas?

as alianças cravam-se nos dedos. cravam-te os dedos. queimam, demolem. escurecem a noite que lutas por ver no meio da chuva de lágrimas. misturam as entranhas, mastigam-nas por ti e cospem-nas, liquefeitas.

há luz sem calor, há frio, há gelo.
a vida é preciosa. descobrimos, tarde demais. justiça/sorte.

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