Ironia do Desastre

Requer-se um servente no corredor do snooker. Não há nada pior num casino. As máquinas funcionam. As cartas são atiradas ao ar bruscamente. Há uma briga perto das setas. Tudo bem. Mas isto? Apontava irritadamente para uma flor que surgia do veludo vermelho do tapete. É imperdoável.

Em todo este Hades há falta do cheiro a desespero. No acaso não há esperanças. Ou só há esperanças. Seja como for, no acaso tudo é visceral, é primeiro e último, derradeiro. Neste nosso ocaso, o único julgamento possível é o do acaso. O único justo.

Uma bola de snooker rola pelo chão, pega nela e arremessa-a à cabeça do jogador. Sabem o que é que não se permite neste nosso ocaso? Num bar de tanto renome como de cadência? Esperança simbólica. Não se permite nem uma lasca de esperança para além da do acaso. Nada frui, tudo decai.

O servente chega e prontamente arranca a flor. Assim que o faz, desfaz-se em cinzas... porque assim quis... e chegou outro que limpou a nova sujeira. Os relógios não fazem um tic. As cinco piscinas estão sempre quietas. O movimento é sempre simulado, reflectido. Mas nada do que é reflectido pode ser alguma vez visceral. É sempre secundário.

Como o conceito de vida ou morte aqui. Digamos que não são os mesmos que dantes. Há uma morte no olvido, outra na falência. Há uma vida na vitória, outra na regeneração. Mas o tronco de todos estes rios é o acaso, neste nosso ocaso.

Se continuarmos a contar histórias assim... Se continuarmos a escrevê-las assim... Talvez nenhuma promessa se cumpra. Nenhuma profecia se conclua. Nada se concretize. E eu não tenho medo disso... Simplesmente

ainda não está na hora de emergir deste submundo.

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