Coleridge Blues

O relógio faz tic e os ossos que pisas tac. Os manuscritos que me deste a decorar escorrem lama porque os deixei cair à fonte, deliberadamente, para me poder ajoelhar no palco, dos momentos de abertura ao fecho das cortinas, e soltar a maré do improviso.

Quando os quatro cantos do redemoinho desabam e a ilusão que estava entre o roxo e o negro, o histórico e o histérico, essa suspensão dissipa, atiro os braços à cama, sem hábito ou vício, fecho os olhos e, a rezar, componho uma carta ao amor.

Digo-lhe para engolir o seu destino, pensamento e expressão. Fico a sós com o suplício. Penso em tudo: a acusação de bruxaria enquanto te ferram a fraqueza na alma. E eu fecho o punho e guardo a força eterna nas palavras, solto a sensatez romântica no pranto e permaneço na desventura.

De novo, no palco, a gritar porque o inferno me saiu pela culatra: os monstros dançam e pontuam as celas. O ferro que se crava nas costas entende o aperto da vontade de poder.

Arde a febre absoluta, o desejo resoluto, o nojo abjecto pelo exótico. Os que não se escondem confundem. E no meandro confunde-se o que sofreste com o que fizeste. Duas noites de vigília. As culpas e os remorsos são medos que apertam o cinto à vida, vergonhas que constrangem a alma à doença. Nisto, qualquer bênção dos deuses será o pior destino da doença.

Ao terceiro dia acordo com o rugido e as lágrimas à litragem da infância. Subjugado, concluo o castigo (natureza maculada pelo pecado) que é ditado pelos maiores alpinistas do abismo, os piores navegantes do redemoinho, os falsos andantes da desilusão e do vómito. Mas desejar e fazer...

É com o sofrimento que o homem rima.

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