Magia Verde

A beleza da vida está no desapontamento. Está lá quando a cor do mar é mais verde que o azul que lhe chamamos, deste lado dos olhos verdes. A questão que marca as minhas entranhas a ferro nunca foi outra: como é que se cria uma ilusão? E o problema estava na perenidade do sentido, do sentir e do que sente:

"A realidade é só uma ilusão muito persistente", Albert Einstein.

As luzes que vemos parecem ter pesos. As auras de uns e outros, tão amenas e tão quentes, mas os cabos dos feitiços, que se lançam pelas palavras, as frias maldições que tanto adorei confabular. E o mais irrisório no cair dos peões em cada buraco que abriam sob si mesmos. Mesmo quando me ergui acima da altura e me chamei de narrador, em resposta a acusações de manipulação. Olha lá o que me fizeste fazer: cumprir as profecias que se foram com o vento e o meu olvido de mim mesmo.

Essas profecias eram lágrimas a cair na chuva. Que culpa tenho que lhes tenhas jogado gasolina?

Então, agora aceito que nada se fixou, para além das paranóias que vieram dos hábitos. Os hábitos são teias de aranha, onde nos apanhamos a nós mesmos em casulos de desespero. Que lhes engrossamos o tecer das linhas do casulo, como a mais forte barba rija. Tudo porque, cheios de pena, o mundo é perigoso. E porque o mundo é perigoso, com a lágrima ao canto dos olhos, preferimos a armadilha: suspensos na rede de suposições de mais ninguém, manipulados pelas nossa vontade de submissão ao conforto.

"Mas aqui não custa tanto", o coro, de voz quebrada.

O que se fixa das palavras é o seu esgotamento no silêncio. Terminam no momento e pouco ecoam consoante a acústica. Até um trovão tem uma área de impacto comprovável (fica tudo a arder), mas a palavra não. Eis a minha perversão e nela, a minha diversão - magia verde.

Os sinos tocam o tempo que duram a tocar e a sua melodia fica porque nos levou por momentos. Numa conversa, nenhum dos intervenientes se eleva, como acontece na harmonia musical. É uma mera troca de informação. A música não tem informação, mas é encantamento. Tudo o que escorre das palavras é o borbulhar do seu evaporar.

Não é o que acontece para o dragão de olhos verdes, afinado pelo metrónomo da sua própria sensibilidade à verdadeira verdade das coisas (passe a sobre-estima, que pode parecer indecorosa), aquilo que de comum têm para a partilha.

A Fábula 
É a violenta fúria de um dragão serpente, de bigodes e língua afiados e flamejantes. Todos os dias voa o dragão por entre as nuvens com o entusiasmo de anteontem: cada qual é como é e não tem o vocábulo "nuvem" para lhe chamar um nome. Não tem princípios, por não precisar de nada para conhecer o novo. E não tem fins, por não ter agenda; que agenda pode ter um dragão? Só tem um meio, que é voar e permanecer na sua alma imortal. O brilho dos olhos e o calor da alma não se perdem, atiçam-se, por saber que nada se reduz: e nunca se desilude. Porque tudo é novo e tudo tem potencial. E nada põe de lado, por ser dragão, tem a humildade de descer aos que o magoam e a sensatez de não os destruir, por respeito à cultura do medo - que deles é essa cultura - de um dragão.


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