Voa (Sonho)

Pintei nas asas as memórias em que te abraço, são asas fracas, mas de certeza que posso voar neste meu declínio, ó meu amor. Quem me dera ser uma águia feliz ao vento em direcção ao que o coração faz desabrochar, queimar as fotos das futilidades, manter a paisagem. Só há tempo para brincar no xadrez da vida.

Perguntam se asas de cera tocam no céu, perguntam se elas podem tocar o amanhã, mas não há plano de sucesso para o espontâneo. Voltar ao nada depois de sonhar o infinito faz parecer que as ligações se enfraquecem, no entanto, estas asas resistem, ainda são fracas, mas de certeza que posso voar neste decair, ó meu amor.

Num mundo vazio assombrado por um sonho que não tem fim, parece que perdemos o que mais desejamos, mas fica tu, mesmo sob estas asas duvidosas, fica junto das memórias que não podes perder, da certeza de que podemos voar neste nosso ocaso, ó meu amor.

Engolidos do sonho pelo mundo miserável, talvez nadar à rebours não seja mau de todo, mesmo com asas tolas, de memórias que ficaram, tenho a certeza que podemos voar nesta minha decadência.  Quero ser um albatroz e visitar-te com o vento, aventurar-me nos tufões do azul sincero, visitar-te, onde quer que tu estejas. Esta ambiguidade não é inútil e vou gritá-la, enquanto oiço a música que quero. Parece que é tudo tão, tão, tão espantoso, tudo quanto ecoa com os sinos das aldeias, mas então, não há utilidade na delonga.

Agora assim:
enquanto eu sigo o meu sonho interminável,
caminho neste pequeno mundo miserável
e fugir ao senso-comum não pode ser intolerável.
Mesmo com as minhas asas toscas
tingidas a imagens que nunca vão deixar de ser
tenho a certeza que posso voar
no meu sonho.

E mesmo quando o sonho se estilhaçar
eu sei que este mundo não tem quase nada
mas é muita coisa.
Mesmo quando o sonho se estilhaçar
e mesmo se as asas começarem a derreter,
elas estão cheias de memórias que vão ficar
e eu tenho a certeza que posso flutuar
ah, pois

Enquanto persigo um sonho que não termina,
divirto-me imenso pelo que vejo no mundo
a saltar o alcatrão nas passadeiras da vida.
Mesmo com asas que não são de confiança
pintadas com a tinta da memória sentida
tenho a certeza que podemos flutuar
no nosso amor.

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