2016

"Unsere hysterisch Kranken leiden an Reminiszenzen"
(Os histéricos sofrem de reminiscências)
— Sigmund Freud

Foi ver o incêndio por uma esmeralda,
A cidade a arder e eu a produzir glitch art
Não se chama melodia,
Estava a tocar glitch harp.
Dançavam hienas e diabretes
Em volta da dourada fogueira
Onde me queimavam o boneco
A dança fria do insucesso conferido
Era bem feita e mais do que merecido!
Eu via os saltos dos gigantes calcar
— via-os de baixo,
a aproximarem-se para apagar um cigarro —
Conseguiram fingir que um cigarro
Atirado ao longo do céu da noite
Era uma estrela cadente.
Semanalmente partiam os cargueiros
E o cronómetro à espera do fim para respirar
Com memórias cobertas de pó para se preservarem
Num novo formol
(pudesse guardá-las em cloreto de prata)
Mas nas veias só o lítio, o lítio, o lítio:
— não vou estilhaçar, não vou estilhaçar, não vou estilhaçar;
— não me vou prender aqui dentro, esquecer como se vive sem;
— queria poder amar o sofrimento, mas sou a sedução do sucesso;
De profundis, numa prisão à beira mar,
A negociar por vós a mão esquerda e respectiva pena,
Desejar de volta tudo o que foi e não pode ser
Sem abrir os olhos e crer nos ouvidos
No que pintavam como merecido, no que diziam falhado
Agora vocês ficam por aí,
Guardados nesse quadro, presos pela moldura,
Num ano que se repete como o melhor de todos
— o pior só para mim —
Sem permissões.
Se mereceriam esta maldição?
Mais vale que ninguém mais mereça as vossas.
Eu sei que posso parar a dor se aguentar até ao fim.
Se aguentar até ao fim.
Começa por um mero assento,
Não preciso de palácios nas nuvens
A receita não leva claras em castelo
Mas a gema não é vossa e reluz a esmeralda.
Este seria o momento em que
À distância da queda de um sonho
Fiz irromper o campo das liláceas e
No topo, mesmo no topo da folhagem,
Plantada à beira mar, vos diria para
O trono observar.

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