Estética do Mal // W. Stevens

I. 

Estava em Nápoles a escrever à família
E, nos intervalos das cartas, lia parágrafos
Sobre o sublime. O Vesúvio já rosnava
Há um mês. Era agradável estar ali,
Enquanto opressivas fulgurações, luziam,
Lançavam cantos ao vidro. Podia então descrever
O horror do som, porque era um som
Antigo. Tentava recordar as frase: dor
Audível ao meio-dia, dor que se tortura,
Dor que magoa nos termos da dor. 
O vulcão tremeluziu outro éter,
O corpo treme ao fim da vida.

Era quase hora de almoço. Uma dor humana.
Havia rosas no café frio. O seu livro
Certificava-o da mais correcta catástrofe.
Excepto para nós, que o Vesúvio pode consumir 
A mais concreta terra em sólido fogo, sem conhecer
Dor nenhuma (ignorando os galos que grasnam
Para que morramos). Isto é parte do sublime
De que decrescemos. E ainda assim, excepto para nós,
O passado nada sentiu quando o destruímos.

II.

Cresciam acácias numa cidade, deitava-se
Na varanda à noite. Chegavam cantos
Escuros, longínquos, como os dialectos
Do sono aflito, sílabas que se formam e comunicam
A inteligência do seu desespero, expressam
O que a meditação nunca conseguiu.

A lua subiu como se ele tivesse escapado
À meditação. Fugiu-lhe da mente.
Era parte de uma supremacia
Que sempre o julgava. A lua sempre esteve livre dele,
Como a noite assim estava. A sombra tocou
Ou meramente pareceu tocar-lhe enquanto dizia
Uma elegia que por lá encontrara:

É a dor que é indiferente ao céu
Apesar do amarelo das acácias, e
Do seu cheiro no ar, peso pendurado
Na envelhecida noite. E não olha
Para esta liberdade, supremacia, e
Na sua própria alucinação nunca viu
Aquilo que rejeita acabar por salvá-lo.

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