Anatomia do Desastre [Jerusalém]

Apesar dos esforços d'A Máquina para nos "humanizar", o animal interior nunca se perdeu. E agora A Máquina cospe-nos na testa por nos mantermos iguais. O esforço d'A Máquina estatizou, ou seja, parou quando nos fartámos dela, como antes nos fartámos de tanta outra coisa que nos seria imprescindível enquanto animais.

A nossa tão bem resguardada cultura, naquele pedestal de diamantes forjados pelo nosso egoísmo, resulta do cansaço de evoluir, da frustração que era termos de ser nós a mudar para interiorizar e sobreviver ao exterior: a cultura é o oposto, o nosso esforço em moldar o exterior à orografia do nosso corpo-humano. Somos tão animais.

Neste terceiro passo (1. evoluir, 2. cultivar, 3. aguentar), entrámos em fadiga por depreender que o mundo não é perfeito, mesmo depois de tanta mudança. Mas sê-lo-á para algum animal desses que nunca o tentou mudar? O nosso canto estaria-nos assegurado se a sobrevivência se tivesse mantido a nossa única frente de guerra face ao mundo.

O nosso estar-a-ser passou, desde cedo, a implicar um adulterar da natureza para nos garantirmos a nós próprios: somos o único animal que pode dizer que se perdeu a si mesmo duma perspectiva espiritual; creio que nenhuma cabra procurará deus e o tentará representar através da edificação de um templo que tanto a faça temer-se a si mesma, quanto à grandeza desse ente invisível.

Construímos tanto por nos decompor a nós mesmos em ossículos e farrapos de almas; construímos tanto por alisar a terra e despejar os mares nas areias... e agora somos fábulas de nós mesmos, cristalizações literárias, tragédias infernais, o que quer que sejamos, temos do ser, na sua pequenez de nos termos perdido na essência para a procurar a ela.

"A realidade não existe na física quantica" 
acvcf

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Estalactite

Antígona de Gelo

Furacão de Esmeraldas