Silêncio Ilegível

Regressei ao meu próprio Glacial Lacrimal, o santuário de tristezas e desabafos na temperatura certa. Onde os medos e as mentiras são simples e limpos como me costumava sentir dantes, numa certa inocência. Mas hoje não.

Hoje não.

Hoje temo os meus sentidos. Sinto o frio derreter-me a pouca-alma que desaba lentamente. Nos espelhismos do gelo vejo-me congelado por um olhar, petrificado por um silêncio. Não me perdoes, nunca. Lembro-me da minha própria tristeza de existir sem propósito anteriormente, numa única frase "gelam-me as veias pelos defuntos" era uma intelectualização dum sentimento para perder a sua faceta sentida.

A arte não magoa, nunca.

Em tempos, senti-me seguro a nadar guiado por uma luz, os mais ínfimos movimentos da água em torno do meu corpo pareciam saudáveis. Ao menos, o mundo mantinha a vida com que me fascinou. Mas agora, parece que o sol se pôs nos meus olhos... o escuro quente e fluxo em que vivia perdido congelou neste calor assombroso que me destrói. O Glacial Lacrimal era uma mentira - como todas as outras representações mentais. Uma nova utopia, talvez distópica com que fugia ao real - e mesmo o real nunca apreendi.

Destrói-me ter de sacrificar tudo.

E num toque da unha numa parede de cristal, rebentei-a. Fiz as mentiras estilhaçar em todas as direcções e perfurar-me o corpo para atestar a vida. Deixei o oceano escapar.


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