Mafalda

Na demanda pela dignidade, tu deixaste-me pela tua humanidade. Mas cingiste-te ao ser-humano do Ser Humano, prendeste-te dentro do corpo e deixaste-me só, na guerra contra os mais Humanos dos humanos, as criaturas mais endeusadas presas à terra.

Bati-me contra aqueles que nos deram as palavras para as coisas. Os cientistas que finalmente decidiram pegar num Ser Humano e vê-lo como ser-humano e dissecar cada pedaço do corpo, da alma e da mente.

Alguns deles perderam-se no caminho recto: o bem é um caminho recto, é preciso entortar o Ser Humano, perder o ponto de vista da luz no cansaço, na fadiga de lutar para nada ter; viver para não criar ou viver para destruir, viver no aturdimento do caminho recto ser múltiplo e querer percorrer toda a sua multiplicidade.

E pusémos o imaterial em recipientes, chamámos-lhes memórias, sentimentos, obsessões e religiões.
E pusémos imitações de latão a guardar os recipientes, demos-lhes funções, nomes e marcas.
E pusémos os robôs a matar-nos, e guerreámos, chorámos, sentímos e voltámos a matar.

Tu não, graças ao teu Deus que te ficaste pelo fabrico dos recipientes.

Oh Bartleby, afinal sempre preferiste não o fazer. Espero que esteja tudo bem e que não percorras o caminho recto como os teus dedos percorrem a cruz, afinal, aquele entroncamento não deve ser seguido.

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