Âncora

Eu dei um murro num espelho para o despedaçar. Então vi o mundo filtrado por estilhaços, num obstante desconfiar. Os meus pés estavam cépticos de pisar o chão. Deixei bem claro e sem apologias: que me aborrece e repugna o real.

A vaidade que me sustentava foi trocada por lama e miasmas-espirituais. Sobrou um deserto pantanal onde a água só corria corrupta, o ar inspirava dor e o sol queimava sem iluminar. Fugir de tudo não bastava sem mergulhar. Dei comigo viciado na queda; sem vertigens: só adrenalina.

Eu caí numa profundeza estranha. Um oceano complicado onde já só me alcançam as tuas mãos. E o que resta é sombra. Só tu és contacto e alma, porque sou egoísta ao ponto de dizer que o resto é morte. És a essência que me ancora à realidade e faz respirar no afogamento.


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