O Póstumo Bailado do Cisne Negro

Ontem foi o momento de refractar a luz verde do farol. Hoje é outro dia para pôr em dia a despedida odisseica. Amanhã vamos fingir dos nossos pesados seres maiúsculos. A minha vida tem de nadar em notas, como o tempo, paga o que deves. Oscilei na indecisão do talvez, no cemitério está o coração embutido numa parede de papel amarelo.

I
Gritos sufocantes não alcançam céus, condensam ondas dolorosas. Magoam ouvidos esses menos cintilantes berros que a poesia-dada pode conter. Começa o ano como se começa a vida, a gritar e aplaudir a insegurança, de caminhar a quatro patas, Édipo. Pega num rolo de tinta e tinge a branco estes campos, vamos embora, Quixote.

II
Tu, um viciado matematizado conta pesos e medidas? Colocas o comprido comprimido na mesa para o veres desaparecer. Tal como o Joker fez o homem engolir um lápis. Lambem-se os frutos proíbidos das mesas para não se desperdiçar.

III
As púrpuras flores primaveris em jardins de granito são companhias que saram a solidão. Sentimo-nos a nós. Graças a ti encontrei a luz dentro da escuridão.

IV
Nunca vou voltar para onde comecei. Queres que te traga umas escadinhas para me olhares nos olhos enquanto me tentas ameaçar?

V
Eu abri um livro dentro de um capítulo da vida. Eu escrevi o que tinha a escrever. Descobri que a honestidade funciona de si para si, mas que a moral e a ética, badaladas pelo povo, são hipócritas; mas precedem a formatação como juramentos de Hipócrates. Treze finais felizes e nenhum ultrapassou o cursivo.

VI
Corta! Luzes, câmara, acção, eu faço isto sozinho. Não preciso do teu dinheiro para chegar onde quero. Luzes, câmara, acção, todos somos dignos de recomeçar, não pelo amor, mas pela vingança. Eis em mim o difamado moralista.

VII
Cidade de crepúsculos e tudo o que queria fazer era estar na praia. Há uma chispa de esperança sob lençóis no húmido ar quente, e como o verão, é passageiro, só. Reencontrei a mesma escuridão no epicentro da luz.

VIII
Irónico é duvidar e deixar duvidar das minhas próprias destrezas. Duvida de ti, mas de mim nunca. Reservo direito ao self-entitlement de glamorizar o que sempre fiz. Da vida um canvas. Do seu curso a decadência. Leia-se nisto uma faculdade artística, nada de vileza.

IX
Do nós à solidão. O ecrã prateado reflecte as cores que a vida já não tem. Sem ecrãs, os teus olhos deixaram de projectar imagens de vida, linhas de fuga foram quebradas pelo inalterável. Tridimensionalidades distintas, por agora. Eu prometo voltar a livrar-te da solidão. não, não a ti, nunca a ti.

X
Recebi uma carta de um velho amigo. Pôs uns quantos pontos nos is do aperto que ainda sustém sobre a minha vida. Permitiu-me a falha, abriu mão de um projecto ancestral de extinguir a luz, não de fora para dentro, mas de dentro para fora. Poder como verbo do dia.

XI
Excelência, que as notícias te encontrem como as letras que relembram palavras: mortas. Signos vácuos quando lidos por mentes iguais dão a merda nas botas que estou a limpar à erva. Rebentei um helicóptero. E agora estou morto, mas não estúpido. Não é por disfarçares a voz que não calo o meu segredo.

XII
Literalmente, tudo o que quis fazer foi estar na praia.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Estalactite

Antígona de Gelo

Furacão de Esmeraldas