por falar nisso

por entre laços e nós...

a silhueta recortada pelos vitrais de mais uma igreja
numa cidade recortada por maravilhas e fardos de palha
das cortinas do palheiro revela-se o vilão pelo rodopiar da cadeira
numa mão a água benta do estábulo, na outra uma corda
sem saber como é que se fazem destas gravatas

"mais uma destas..."
ele queria enforcar-se na missa, durante o drama
e ninguém fez gala para o ajudar com a corda
(podia ser que seguisse preso ao sino e o fizesse soar)
do outro lado, ouvia-se um louco contar a história
de como ficaram três mortos num monte à espera do ocaso
(três tristes tigres com estrica)
"se os encontrarem, exumem-nos directamente para o Técnico"
talvez fosse a história que eles mesmos queriam engolir
talvez quisessem difractar para terminar
(mas o que reluz não é mais que o reflexo da lava
de um candeeiro cheio de água e bolhas)
a história de mais uma reputação sem justiça poética
um não tinha medo de espíritos,
o outro não tinha espírito para medos,
o terceiro tinha tretas com a transmigração das almas,
e quando saíam da escola, o monstro mostrava-se,
tudo o que não era superficial era quimera associal.

respirar por acaso e sem surpresa... 

se a maré inscrever um "foda-se" na areia?
e se o vento arrastar o cheiro das manjeronas?
serão mensagens ou pistas a seguir?
há tantos países recortados por linhas,
traçadas como que por ondas num areal.
e há tantas pessoas reunidas por vontades comuns,
separadas por linhas pintadas num chão, 
de cujo pincel já não se faz conta.
sem xamanismo, tarot, ou palantír,
não comungo com a natureza das marés,
dos luares, ou mesmo dos búzios.
e o rasto do vento é a memória delidida
da própria nostalgia,
de um tempo em que os astros falavam.
esse vento é a única coisa que importa,
o que me afaga a barba, o que me ergue a fronte
e sussurra por sussurrar, sem efeito póstumo.
em suma:
o vento não compete com o meu lugar,
nem eu com o dele.

quem? eu? não sabeis? uma lenda
quem eu sou? uma lenda
depois de séculos a aviar versículos, querem que eu vá surgir numa de:
“ah, não sei. já foi há muito. por agora, eu fico-me.
e amanhã, quem sabe, eu sou”
quem? eu? não sabeis? uma lenda
quem eu sou? uma lenda
quando eu nasci, planetas alinharam-se
como que numa vénia cósmica ao imperador
a luz mudou e estrelas escreveram o meu nome num céu bordô
— NERVE, "Lenda"

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