Diário Secreto de Fernão Mendes Pinto (que espero nunca vir a ser editado)

Alto mar, 19 de Outubro de 19 de Outubro de 1568
Caro diário:
Ontem raptámos uma noiva chinesa e ela tem-nos acompanhado na nossa viagem desde então. Recordo-me da cena do rapto como se tivesse sido ontem (e foi): a meu mandato, os homens lançaram-se todos ao mar e raptaram a noiva da barcaça onde vinha. Vestia um vestido branco simples que lhe tapava os pés, vestido esse de seda chinesa cujas mangas se abriam nos cotovelos e voltavam a fechar-se nos pulsos. O véu tapava-lhe completamente o cabelo, preto, como a noite. A sua pele parecia de porcelana. Na barcaça da noiva vinham também mais dois chineses que acabámos por matar, visto que o peru do Natal já acabou... e tinhamos fome...
Mas, entretanto, já tudo mudou. A bonita noiva veste agora uns trapos velhos que arranjámos, visto que o Sebastião insiste em vestir roupas de mulher. Por falar em Sebastião, n'A Peregrinação não relatei a nossa passagem por Alcacer-Quibir, de onde trouxemos o rei D. Sebastião e lhe contámos que o seu desaparecimento tinha levado à eleição de um novo rei. Indignado, D. Sebastião decide vir connosco para os Descobrimentos e exploração das terras asiáticas e outras. Curiosamente, tem uma estranha tendência para vestir roupa de mulher e isso levou-o a roubar a roupa à noiva.
Volto amanhã para relatar mais acontecimentos que possam vir a acontecer.

Alto mar, 20 de Outubro de 1568
Diário:
Eu só escrevo neste diário por volta do terceiro turno da madrugada, quando já estão todos a dormir, portanto consigo relatar factos irrelevantes para A Peregrinação. Hoje, por exemplo, após a hora de almoço, ouvimos um brado de apelo "ACUDAM" e depois ouvímos o Sebastião dizer "Ai, ai,... vou cair... ai, ai" e de seguida o salpisco dado pela sua queda. Fomos todos, TODOS, ver o que se passava e vimo-lo embrulhado no seu vestido, no meio da água a pedir ajuda. Como sabes, aqui o Índico é rico em tubarões e ele estava literalmente em pânico.
Após uma larga discussão sobre quem o ia salvar e de termos a certeza que seria eu, ouvímos outro "SPLASH" e vimos a noiva chinesa a nadar em direcção a ele para o salvar... ou assim pensávamos. A noiva apenas queria de volta o seu vestido, despe Sebastião e volta a bordo. Quando voltámos a olhar para Sebastião, já ele estava a ser devorado por tubarões de um circo aquático ali das redondezas.
Expresso, por vim, o meu descontentamento para com o actual equipamento salva-vidas presente no navio. Ficámos sem bóias e o motor (SIM, MOTOR) já anda a falhar.
Tiago Filipe
10ºLH1

Elaborado no âmbito da leitura d'A Peregrinação, em Literatura. Livro esse que relata as viagens de Fernão Mendes Pinto às terras do Ocidente, com bastante exagero e sendo por vezes chamado por historiadores de "Fernão Mentes? Minto!".

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