family.

"hey, kid, do I have you're attention? 
I know the way you've been living 
life so reckless, tragedy endless,
welcome to the family."

bem vindos à família, e desde já lamento o vosso atraso. lamento o tempo perdido em devaneios, na busca por um mundo que vos deificasse, quando tudo aqui sempre esteve aos vossos pés. agora não há mais que rezar, há que trabalhar, pagar a renda e comprar o pão nosso de cada dia. não lamentemos as perdas, festejemos os ganhos: toda a experiência vivida é única, irrepetível e desigual. agarremo-nos aos nossos heróis pela forma como quisemos ser como eles e falhámos numa primeira tentativa. porém, tudo continua e há muito mais a viver.

bem vindos ao crepúsculo, ao momento em que pensamos que já tudo acabou mas ainda estamos naquele limbo entre o dia e a noite, onde apesar do cansaço ainda há esperança, "mas dêem-nos descanso pois tudo perdemos". quem nos mandou? porque fizemos o que fizemos? porque não podemos voltar atrás? novamente nos vemos enfrentados pelas perguntas que nos levaram a dar o primeiro passo em direcção à glória, mas agora, falhados do mundo colocamos as mesmas questões com que começámos a viver. redundância, disse já que podiam havê-las e ei-las à nossa frente, um círculo perfeito, o fim que na verdade não é início nem meio, é outra parte do círculo que a cada falhanço nos vai levar ao mesmo - novas tentativas.

bem vindos à hora de jantar e agora temos medo de nos sentar à mesa pois aqueles que sempre nos amaram foram por nós rejeitados. chegamos a pensar que o jantar podemos mesmo vir a ser nós. quando na verdade, continuam cá, prontos a amar-nos, tal como sempre, após toda a ignorância que lhes foi atribuída.

noites sentados nos sofás a ver televisão, a ouvir a lareira e a contar o nosso dias, ouvem-nos como se fossem "pais" e "mães" de crianças abandonadas, adoptaram-nos porque em nós viram a mesma esperança que viram no início. mas eis agora a revelação: que não é incesto nenhum quando vos digo que esta família são as únicas relações que alguma vez vamos precisar, mais que amor, são o paraíso na terra, souberam das nossas desavenças, cuspimos-lhes na cara e ainda assim nos aceitaram, tal como dantes, com um simples pedido de desculpa, que o nosso orgulho permitiu.

bem vindos à família, à fase final, à fase da aceitação, quando finalmente damos por nós e pensamos - pois, talvez tenha errado e está na hora de me redimir - e após tão grande período de crise, desespero e solidão entre o baile de máscaras e a família, tantas lágrimas e tanta dor, finalmente acreditamos que nesta selva só nos podemos ajudar uns aos outros, semelhantes diferenças são o que são e aceitam-nos seja como for.

somos agora parte, somos agora o que sempre quisemos ser, numa casa onde realmente o podemos ser. sem  o falso estrelato que nos espezinhou, agora somos realmente estrelas, capazes de tudo, escrevemos o que queremos, dançamos, cantamos e tocamos o que queremos, nada nos critica, "nós nascemos assim". somos quem nós somos e vivemos à nossa maneira. os erros não são erros e todas as desculpas são demasiadas. e mesmo que os deuses dos terceiros nos pareçam odiar, não vou pedir uma nova família só para ficar bem na foto, todos presentes são agora perfeitos (como sempre foram), quem os critica - esses estão cheios de imperfeições. repito: todos são perfeitos de seu próprio modo, o meu Deus não erra.

e sim, podemos, podemos vencer qualquer luta, podemos tornar-nos o que quisermos, sucessos auto-proclamados, somos as racionalizações de tudo o que perdeu uma primeira vez, saiu da rotina circular antes descrita e cria agora um vector de força que se eleva - quais reis destronados, lançados num mundo desconhecido, deixamos de parte as armas, desnecessárias, é a nossa guerra e todos a vamos perder.

" (...) de vida. "


"and in a way it seems there's no one to call 
when our thoughts are so numb and our feelings unsure, 
we all have emptiness inside, we all have answers to find
but you can't win this fight."

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