O Necromante

Um mago pirata que lida com os mortos do fundo do mar contou-me que o langor é a delimitação do tempo de espera pela nova sensação de um objecto de nostalgia. Era magro, um saco vazio cheio de ossos. Contei-lhe que os vivos chamam à paixão um fogo que consome por dentro, talvez por associação dos tempos de espera. Discutimos se o langor seria a duração desde esse incêndio ao seu vapor.

Pescar um morto implica tornar a sentir sensações associadas a uma cara. Faz-se assim. Lançou a enxada escarlate à fátua água turquesa e puxou de um crânio. Sensações de um envenenamento interior, um peso que sua de dentro. E os mais mal mortos nunca cessam de cheirar a si.

Os amantes consomem-se, como o fogo, mas só alguns mortos são consumidos pelo fogo. Só os que não ardem se podem repescar. Será a purificação purgatorial em vida esse incêndio interno, do peso do karma? A torre de colageno que não cai quando lhe atiram uma caveira componente que estruturava a sua base?



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