Re:Torn

Não há nada para além disto.
E, no entanto, está lá tudo.
Chegou o dia em que tive de duvidar da imagem do céu
Que é a única verdade coerente.
Imaginem uma salina (que existe, juro),
com águas tão salgadas e perímetro tão lato
que o céu não tem alternativa
a não ser deixar-se repetir pela terra húmida.
Que tanto o enoja. E tanto nos excita.
Foi então que percebi a interrogação do monge budista:
se colocares contíguos dois espelhos,
qual das imagens produzidas será a mais falsa?
E se colocares contíguas duas pessoas,
qual das versões a mais verdadeira?
Eu nunca me vi reflectido no céu,
mas já ouvi pessoas da minha espécie jurar
que vêem lá os reis do antigamente.
E no entanto, o borrão azul deste céu nublado e branco é repetido,
tal como o meu corpo se repete, de pés para o ar, contíguos aos meus.
É repetido mas não repete. Não repete, mas aqui se repete.
Vim enxotar um estado da alma, vim vomitar diamantes,
vim derrotar outro dragão e não tomei alucinantes.
Acabei a engolir o meu veneno, retornar ao estômago o cimento,
não sei se era uma mosca ou uma fada e nunca me vi tão sóbrio.
Ah, esta foi fácil e a alternativa seria pior.
Descentro-me do objectivo,
há céu por cima e céu para baixo.
Estou aqui e reflectido ali, mas não sinto lado nenhum.
Confunde-se a dormência com o sonho projectado.
Falta o formigueiro da exposição pública,
o simples olhar que nos prova.
Coerente e consequentemente assumem
que há um qualquer meta-ponto motivador para cada acção,
como se houvesse estado de manipulação de tal forma exequível.
E eu sou desmotivado, mas ocorro e recorro.
O inverso do turbilhão que não arruma;
a sequência reflectida no olho da serpente que não morde;
o filme, mas apenas a luz na lente,
essa luz que nunca vai atingir o grande ecrã.
E lá estou eu, nessa singularidade, raridade e perversão,
A chorar: todas as minhas lágrimas.

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