glória e consolo de mãos dadas

Sentei-me a analisar o sentimento
(com o peso e gravidade do costume)
e, por analogia, reparei:
substituí um primeiro desgosto amoroso,
por outro primeiro desgosto.

Do primeiro restou silêncio radiofónico,
do segundo silêncio radiofónico restou.
Terá sido a substituição por um perfeito análogo
(o mesmo, noutralgo) a motivar a mudança?

Ambos se mantêm vivos no silêncio
— símbolo dessas vidas—e quando morrem?
(que já me morreram outros desgostos)
como é que se salda a dívida da distinção
e a da isolação de amplitudes supersónicas?

como é que separamos as bandas da comunicação,
como se se travassem os invasores? e por que raios
será isso superior à companha?
Para quê montar aos vivos as paredes que a morte
(essa verdadeira némesis) por si já ergue?
como é que nos hipnotizamos à crença de que alguém,
por puro ódio, já não existe—quando ali está,
em prantos, a espernear, rogando por diálogo?

Receamos que a converseta sombria e límpida
nos transfigure o coração no espelho de si mesmo.
Que nos torne pedaços de uma negra e clara verdade,
sobre que se empoleiram lívidos olhos—faróis irónicos,
infernais—que acendem uma graciosidade tenebrosa.
solitária glória, solitário consolo
(e onde é que estão agora? aquela Glória e aquele Sonho?):
a consciência de praticar o mal.

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