O que a água me trouxe

 o tecido da tua carne
puro como um vestido de casamento

o tempo que nos levou
até aonde a água chegou,
e o tempo que voa
entre nós os dois,
ó, meu amor, não o deixes
levar o que a água me trouxe

pousa-me no reflexo
deixa o único som
ser o transbordar
(bolsos cheios de pedras)
pousa-me no espelho 
e deixa o único som
ser o transbordar

e, ó, puro Atlas
o mundo é a puta de um fardo
tens-me preso por muito tempo
e esta saudade
e os barcos a apodrecer
foi isto que água nos trouxe

porque te levaram os que amavas
mas devolveram tudo em troca de ti mesmo,
como é que seria isto tudo de outro modo?
seria isto tudo... de outro modo?

porque é uma cruel amante
e a aposta tem de ser feita,
mas ó, meu amor, não me esqueças,
quando eu deixar que a água me leve

por isso, pousa-me no espelho
deixa o único som
ser o transbordar
bolsos cheios de pedras
pousa-me, no reflexo,
e deixa soar o transbordar.

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