Serpenteia nas estalactites da cúpula da caverna um dragão longo: ao som ecoado dos articulados harpejos dedilhados pelas suas garras numa harpa escarlate, ao clangor tonitruante das suas escamas esmeralda. Canta da morte, do súbito, do sublime, da glória e da difamação, encerradas na bolha de sabão que é este tecto. Submerge para cuspir sementes, embarcações, quiçá entoar um nada harmónico, dedicado aos intervalos das coisas. Dos topázios que tem por olhos fulgem raios que derretem em lágrimas o que ninguém dava por emoções. Também tu, querido leitor, serás raptado e envolvido pelo dragão: de cadência, às constelações de safiras, subterrâneas e virtuais. Fez tronar hediondas tumbas, para abrir o chão tumultuoso e das raízes negras destes caracteres fazer brotar estátuas de gelo — de que ainda reluzem faíscas turquesa. Inspira e empina o nariz, adianta-se desprovido das estalactites que, ao acordar, limpou dos olhos — lacrimosas estóicas. Para trás deixou as estalagmites de que fazia j
À luz fria reflectida numa catarata que não gelou, vi um enxame de olhos focarem-se no que se deixou por penas traçado, puro vitimismo passado. Os lençóis sujos, as sombras largadas, as jóias que deixaram um trilho de luz, os amigos que só foram sonhados. Esta acrópole gelada, sobre um cemitério, sobre tantos, montados por cima dos outros. Jazigos plantados em mausoléus: gelados. Na vez de cadáveres: estátuas de gelo e nada aqui derrete, tudo fica, tudo recorda, tudo ainda geme ao frio. Espirais da luz turquesa, nas dores do corpo, tremores na face transtornada, as lágrimas—estalactites, no preciso momento em que surgem. Nada vai, tudo fica. E se plantei cemitérios, se moldei quimeras nas geadas (quando quis formar rosas líquidas), foi porque nada ficou e eu tive de fazer ficar. Se estes jardins estão assim gelados, não são para enxames de agora, mas para quem encontrar a minha alma, lançada num iceberg, afim de bicadas de picaretas — narigadas do passado — para a voltar a cro
"Inelutável modalidade do visível: Fecha os olhos e vê." — James Joyce Franqueei às ideias um facto: não era o que queria, nem o que imaginei, não é justo, nem consensual, é espantoso e fui eu que fiz. Um furacão de esmeraldas botânicas! — tintura das jóias, tecidos dos sonhos — giram as páginas do livro amarelo aberto e derrama-se um delta que ficou por beber. Agora cospe ramos e ramos de rosas, voam os trajectos da cor dos dentes-de-leão e dos dentes dos lótus — senhores das próprias poses e do que está nos seus nomes. Os cactos do deserto numa constelação que toma a forma com que eu os esculpir! Mas, se fechares os olhos para ver, são, ainda (e porém), bolhas de sabão! As armadilhas de Vénus rebentam em fogos-de-artifício, cheias de água na boca! Que mais pirotecnia se pode fazer? Ao fluorescente tufão, junta-se a neve de diamantes, absorvida pelo orvalho das carnívoras. Narcisos tiranos e vinhas sádicas que fluem em improvisados bouquets . Espanta-te a naturalidade com qu
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